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domingo, 3 de julho de 2022

LIÇÃO 02 - A SUTILIZAÇÃO DA BANALIZAÇÃO DA GRAÇA


                        

Profº Pb. Junio - Congregação Boa Vista II.

 LIÇÃO 02 - A SUTILIZAÇÃO DA BANALIZAÇÃO DA GRAÇA


TEXTO ÁUREO

"Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus." (Ef 2.8)


VERDADE PRÁTICA

A graça de Deus não é barata. Ela requer arrependimento, novo comportamento, ou seja, nova vida em Cristo.


LEITURA BÍBLICA: EF. 2.4-10 - ( COMENTÁRIO LEITURA BÍBLICA)

V. 04 - " Mas Deus, que é rico em misericórdia, pelo imenso amor com que nos amou." Por naureza, Deus é amor. Mas o amor de Deus na relação com os pecadores transforma-se em graça e misericórdia. Deus é rico em misericórdia (V.04) e em graça (V.07), e essas riquezas tornam possível a salvação do pecador. Somos salvos pela misericórdia e pela graça de Deus. Tanto a misericórdia como a graça vêm a nós por meio do sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Paulo não só fala sobre a nossa salvação, mas fala também sobre a motivação de Deus em nos salvar e enumera quatro palavras: AMOR, MISERICÓRDIA, GRAÇA E BONDADE. 

V. 05 - Estando nós ainda mortos em nossos pecados, deu-nos vida juntamente com Cristo. Deus tirou-nos da sepultura espiritual em que o pecado nos havia posto. Deus realizou uma poderosa ressurreição espiritual  em nós por meio do poder do Espírito Santo. Quando cremos em Cristo, passamos da morte para a vida (JO 5.24).

V. 06 - Não só saímos da sepultura e fomos ressuscitados, mas também fomos exaltados. Porque estamos unidos a Cristo, somos exaltados com ele. As três fases da exaltação de Cristo - ressurreição, ascensão e assentar-se no trono - agora são repetidas na vida dos salvos em Cristo, Deus deu-nos vida (V.05), ressuscitou-nos (V. 06a) e fez-nos assentar nas regiões celestiais (V. 06b).

V. 07-09 - O último propósito de Deus em nossa salvação é que por toda a eternidade a igreja possa glorificar sa graça (EF 1. 6, 12,14). A meta principal de Deus na nossa salvação é sua própria glória. John Stott diz: " que não podemos empertigar-nos no céu como pavões". O céu está cheio das façanhas de Cristo e dos louvores de Deus. A salvação é um presente, não uma recompensa. Certa feita perguntaram a uma mulher romana: "Onde estão as suas jóias?" Ela chamou seus filhos  e, apontando para eles disse: "Eis aqui minhas jóias". Somos as jóias preciosas de Deus. Somos os troféus da sua graça. A salvação não pode ser pelas obras, porque a obra da salvaçao já foi plenamente realizada por Cristo na cruz. 


                    INTRODUÇÃO

Durante uma conferência britânica a respeito de religiões comparadas, técnicos de todo o mundo debatiam qual a crença única da fé cristã, se é que existia essa crença. Eles começaram eliminando as possibilidades. Encarnação? Outras religiões tinham diferentes versões de deuses aparecendo em forma humana. Ressurreição? Novamente, outras religiões tinham histórias de retorno dos mortos. O debate prosseguiu durante algum tempo até que C. S. Lewis1 entrou no recinto. “A respeito do que é a confusão?”, ele perguntou, e ouviu a resposta dos seus colegas de que estavam discutindo sobre a contribuição única do cristianismo entre as religiões do mundo. Lewis respondeu: “Oh, isso é fácil. É a graça”. Depois de alguma discussão, os conferencistas tiveram de concordar. A noção do amor de Deus vindo a nós livre de retribuição, sem cordas amarradas, parece ir contra cada instinto da humanidade. O caminho de oito passos do budismo, a doutrina hindu do karma, a aliança judaica, o código da lei muçulmana — cada um deles oferece um caminho para alcançar a aprovação. Apenas o cristianismo se atreve a dizer que o amor de Deus é incondicional. Consciente de nossa resistência inata à graça, Jesus falou dela com frequência. Ele descreveu um mundo banhado pela graça de Deus: onde o sol brilha sobre bons e maus; onde as aves recolhem sementes de graça, sem arar nem colher para merecê-las; onde flores silvestres explodem sobre as encostas rochosas das montanhas sem serem cultivadas. Como um visitante de um país estrangeiro que percebe o que os nativos não percebem, Jesus viu a graça por toda parte. Mas Ele nunca analisou nem definiu a graça, e quase nunca usou essa palavra. Em vez disso, transmitiu graça por meio de histórias que nós conhecemos como parábolas — que tomarei a liberdade de transportar para um cenário moderno.


            I. COMPREENDENDO A GRAÇA

1. A graça é divina - As palavras mais frequentemente usadas no Antigo Testamento para transmitir a ideia de graça são chanan (“demonstrar favor” ou “ser gracioso”) e suas formas derivadas (especialmente chên) e chesedh (“bondade fiel” ou “amor infalível”). A primeira refere-se usualmente ao favor de livrar o seu povo dos inimigos (2 Rs 13.23; SI 6.2,7) ou aos rogos pelo perdão de pecados (SI 41.4; 51.1). Isaías revela que o Senhor anseia por ser gracioso com o seu povo (Is 30.18). Mas a salvação pessoal não é o assunto de nenhum desses textos. O substantivo chên aparece principalmente na frase “achar favor aos olhos de alguém” (dos homens: Gn 30.27; 1 Sm 20.29; de Deus: Êx 34.9; 2 Sm 15.25). Chesedh contém sempre um elemento de lealdade às alianças e promessas, expresso espontaneamente em atos de misericórdia e amor. No Antigo Testamento, a ênfase recai sobre o favor demonstrado ao povo da aliança, embora as demais nações também estejam incluídas. No Novo Testamento, a “graça”, como o dom imerecido mediante o qual as pessoas são salvas, aparece primariamente nos escritos de Paulo. É um “conceito central que expressa mais claramente seu modo de entender o evento da salvação… demonstrando livre graça imerecida. O elemento da liberdade … é essencial”. Paulo enfatiza a ação de Deus, e não a sua natureza. “Ele não fala do Deus gracioso; fala da graça concretizada na cruz de Cristo”. Em Efésios 1.7, Paulo afirma: “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça”, pois “pela graça sois salvos” (Ef 2.5,8).

2. Agraça é imerecida - O expositor bíblico William Barclay mostra o pano de fundo da doutrina da justificação nessa passagem. Nesse exemplo de Paulo, imagina-se o homem diante do tribunal de Deus. Barclay destaca com muita propriedade que a palavra grega traduzida como “justificar” vem da mesma raiz de dikaiún e que todos os verbos gregos que terminam em ún têm o sentido de considerar alguém como algo e não o de fazer algo a alguém. Dessa forma, se alguém que é inocente se apresenta diante de um juiz, o juiz, evidentemente, o declarará inocente. Todavia, o caso mostrado por Paulo aqui é diferente. A pessoa que se apresenta diante de Deus é totalmente culpada, merecendo a punição do seu erro, porém, o justo Juiz, em uma demonstração de sua graça infinita, considera-o como se fosse inocente. Isso é o que se entende do significado da palavra “justificação” no contexto paulino. Quando Paulo diz “Deus justifica o ímpio”, significa, dentro do contexto da justificação, que Deus trata o ímpio como alguém bom. É evidente que tal raciocínio deixou os judeus totalmente escandalizados. Na mente dos judeus, apenas um juiz iníquo agiria dessa forma, pois justificar o ímpio é uma abominação para Deus (Pv 17.15); “não justificarei o ímpio” (Ex 23.7). Todavia, a argumentação de Paulo mostra que é exatamente isso o que Deus fez. Na mente de Paulo, observa Barclay, se alguém desejasse saber como Deus é, então deveria olhar para Jesus, pois Ele revelou Deus aos homens. O verbo encarnado de Deus veio mostrar o grande amor de Deus pelos homens, mesmo estes estando mortos em seus delitos e pecados (Ef 2.1,2). Barclay destaca que “quando descobrimos isso e cremos, nossa relação com Deus muda radicalmente. Estamos conscientes do nosso pecado, mas não estamos aterrorizados ou distantes. Quebrantados e arrependidos, recorremos a Deus como uma criança triste se chega a sua mãe e sabemos que o Deus a quem chegamos é amor. Isso é o que significa justificação pela fé em Jesus Cristo. Isso significa que estamos em relacionamento correto com Deus porque acreditamos sinceramente que o que Jesus nos disse de Deus é a verdade. Já não somos estranhos que têm medo de um Deus irado. Somos filhos, crianças errantes que confiam no amor do Pai que os perdoará. E não podíamos nunca chegar a esse relacionamento com Deus, se Jesus não tivesse vindo para viver e morrer para nos dizer como maravilhosamente Deus nos ama”.

 

        II. A GRAÇA NO CONTEX TO BÍBLICO

1. A necessidade da graça - O pecado entrou no mundo por meio de Adão (v. 12)

Paulo muda o estilo de sua escrita, deixando de falar na primeira pessoa do plural até o versículo 21. O texto, no entanto, está estreitamente interligado com o anterior. Para falar sobre a situação da humanidade diante de Deus, o apóstolo reporta à história da queda de Adão, descrevendo sua consequência para chegar até a solução apresentada em Cristo. Paulo já havia reportado às principais figuras do povo judaico para identificar este povo com Jesus. Agora, ele faz um link com a figura do pai da humanidade” para relacionar a humanidade como um todo com Deus. Nos versículos 11 e 12, ele não menciona o nome de Adão e, muito menos, o de Eva, mas, para ele, o culpado pela entrada do pecado no mundo foi Adão. Não adiantou Adão transferir a culpa para Eva, assim como tem sido uma prática comum dos seres humanos transferir suas culpas para alguém ou algum acontecimento, ao invés de assumir a responsabilidade pelos seus atos. Neste texto, Paulo não demonstra preocupação com a origem do mal, mas sim com a forma que o pecado entrou no mundo. O pecado de Adão é explicitado no relato da queda (Gn 3), quando ele rejeitou seguir o caminho traçado por Deus para seguir seu próprio caminho. O resultado disso foi a perda de comunhão com Deus e a nova situação de condenação sob a ira de Deus. O ser humano não encontra força em si mesmo para resistir ao pecado. O exemplo de Adão simboliza a situação do ser humano sem Deus, a condição da humanidade desde a queda. Pohl (1999, p. 96) afirma que “a humanidade não é um aglomerado de indivíduos isolados, mas forma um corpo. Cada um de seus membros vive em ‘simbiose’, vive junto com os demais membros, para o benefício recíproco ou também para o prejuízo mútuo”. Adão, como a figura do primeiro ser humano, traz consigo a responsabilidade de transmitir para os descendentes as consequências pelos seus atos. Todavia, Paulo vai mencionar o ato pecaminoso de Adão somente a partir do verc. 14.

A morte entrou no mundo por meio do pecado (v. 12)

Adão foi a porta de entrada do pecado no mundo, e o pecado, por sua vez, a porta de entrada para a morte. Neste texto, a interpretação para a morte se refere à morte espiritual, como punição pela desobediência humana, uma referência a Gn 2.17 e 3.19. A morte como algo antinatural, pois o pecado torna o ser humano mortal e condenável, mesmo que biologicamente vivo. Toda causa tem sua consequência. As pessoas, às vezes, confundem o perdão com não ser mais responsável por seus atos falhos. Uma pessoa que se rende a Cristo e deixa a vida de pecado, como já vimos em lições anteriores, é imediatamente justificada diante de Deus (declarada justa), mas ele continua responsável pelas consequências dos erros já cometidos. Por exemplo, vamos supor que esta pessoa tenha cometido um assassinato antes da conversão. Com o arrependimento e abandono da prática, Deus a perdoa, mas não assume a responsabilidade de livrá-lo de uma prisão. O que Deus garante é estar com ele na prisão. Todo pecado tem sua consequência. Por isso, Paulo recomenda em 1 Co 10.12 “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe que não caia”. O pecado traz consigo muito prejuízo, e o pior de todos é a morte espiritual. O crente deve ficar atento para não dar lugar ao pecado em sua vida. Deve também preservar o que de mais precioso tem na vida, a saber, a comunhão que o primeiro Adão tinha com Deus, antes de pecar.

A morte sobreveio para toda a humanidade porque todos pecaram (v. 12)

Paulo continua abordando a relação entre o pecado e a morte, agora com uma abrangência maior: todos os seres humanos, uma vez que todos pecaram (Rm 2.12; 3.23). Existe uma discussão teológica se todos pecaram em Adão, ou seja, o pecado de Adão foi transferido para toda a humanidade, ou se o pecado é de responsabilidade individual de cada ser humano. A situação espiritual da humanidade não é uma fatalidade compulsória. Da mesma forma que Adão pecou, todos os demais seres humanos também pecaram, sendo cada um responsável pela sua própria desobediência. A escravidão do pecado é nutrida pelo próprio desejo pecaminoso no interior do ser humano (Tg 1.13-16). A humanidade não responde pelo pecado de Adão, mas consiste em sua própria culpa. A cultura influencia o comportamento das pessoas. O ser humano tem a tendência de julgar as pessoas que pertencem a outra cultura ou religião, ignorando que, se nascesse no país onde essa pessoa nasceu e fosse influenciado pela mesma cultura, provavelmente iria ter a mesma crença. Por exemplo, a maioria da população do Iraque professa a fé do islamismo. Enquanto que, quem nasce no Brasil, tem uma tendência a ser cristão. O cristão não pode demonizar as pessoas que pertencem a outras religiões, mas entender que todas as pessoas, indistintamente, precisam da solução que Deus proveu para o pecado da humanidade: Jesus. Dessa forma, o ambiente formado após a queda também influenciou as pessoas que vieram após o primeiro Adão. No entanto, mais à frente da carta, o apóstolo vai esclarecer que aquele que está em Cristo recebe uma nova natureza que vem de cima e passa a receber influência do Espírito Santo. Todavia, o cristão deve estar atento para não perder a comunicação com Ele para não ser influenciado pelo mundo. O crente justificado está no meio do mundo, mas não pertence a ele, e sim ao Pai (Jo 17-9, 11, 14b, 16).


2. A extensão da graça - A manifestação da graça (2.11)

“Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (2.11). Só podemos ter uma vida santa por causa da epifania, “manifestação” da graça de Deus. A graça de Deus sempre existiu. Deus sempre foi gracioso. Porém, em Cristo, essa graça despontou majestosa da mesma forma que o romper da alva. O substantivo epifaneia significa a visível aparição de alguma coisa ou de alguém que estava invisível. Essa palavra era usada no grego clássico em relação à alvorada, ao amanhecer, quando o sol transpõe a linha do horizonte e se torna visível. É a mesma palavra que aparece em Atos 27.20, quando Lucas diz que por vários dias nem o sol nem as estrelas apareceram [fizeram epifania], É claro que as estrelas ainda estavam no céu, mas não apareceram. A graça de Deus brilhou como sol sobre aqueles que viviam nas regiões da sombra da morte. Essa graça se manifestou quando Jesus nasceu num a estrebaria, cresceu num a carpintaria e morreu numa cruz. Essa graça brilhou quando de seus lábios se ouviam palavras de vida eterna, quando ele curava os enfermos, purificava os leprosos, lançava fora os demônios e ressuscitava os mortos. A graça resplandeceu quando o Filho de Deus entregou sua vida na cruz e a reassumiu na gloriosa manhã da ressurreição. A graça se manifestou para resgatar o homem do seu maior mal e oferecer a ele o maior bem.

Destacamos três aspectos da epifania da graça:

Em primeiro lugar, a origem da graça (2.11). Paulo fala da graça de Deus. A graça tem sua origem em Deus. Ela emana de Deus. Embora Deus sempre tenha sido gracioso, pois é o Deus de toda a graça, ela se tornou visível em Jesus Cristo. A graça de Deus foi esplendorosamente mostrada em seu humilde nascimento, em suas graciosas palavras e em seus atos movidos de compaixão; mas, sobretudo, em sua morte expiatória. A graça de Deus é totalmente imerecida. Não há nada em nós que reivindique o amor de Deus. Não há nenhum merecimento em nós. O amor de Deus tem nele mesmo sua causa. A graça é um favor imerecido. Deus trata de forma benevolente aqueles que merecem seu juízo.

Em segundo lugar, a natureza da graça (2.11). A graça de Deus é salvadora. A graça é o favor superabundante de Deus pelos pecadores indignos. Kelly diz que a graça de Deus representa o favor gratuito de Deus, a bondade espontânea mediante a qual ele intervém para ajudar e livrar os homens. E m Jesus, a graça de Deus desponta como um sol sobre o mundo escurecido pelas sombras da morte. Gosto da definição de William Hendriksen: A graça de Deus é seu favor ativo que outorga o maior de todos os dons a quem merece o maior de todos os castigos.-‘“ Por isso, a graça triunfa sobre nossa iniquidade. Ela é maior do que o nosso pecado e melhor do que a nossa vida. Onde abundou o pecado, superabundou a graça. Somos salvos pela graça. Vivemos pela graça. Dependemos da graça. Nada somos sem a graça. Por causa da graça, embora perdidos, fomos achados; embora mortos, recebemos vida.

Em terceiro lugar, a extensão da graça (2.11). A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. A epifania da graça não alcança todos os homens quantitativamente, mas todos os homens qualitativamente. A salvação é universal no sentido de que alcança todos aqueles que sao comprados para Deus, procedentes de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9), mas não no sentido de todos os homens, sem exceção. A salvação é universal porque alcança todos os homens sem acepção, mas não a todos os homens sem exceção. Não há universalismo na salvação. O que a Bíblia ensina sobre a universalidade da graça de Deus é que ela rompe todas as barreiras, derruba todos os preconceitos e alcança pessoas de todos os gêneros, idades e posições (2.1-10). A graça é acessível a todos: homens e mulheres, idosos e jovens, escravos e senhores, judeus e gentios.“ Nessa mesma linha de pensamento João Calvino afirma: “A salvação é comum a todos”, e isso fica expressamente claro pelo fato de Paulo mencionar os escravos cristãos. Porém, Paulo não alude aos homens no individual, mas destaca classes individuais, ou seja, diferentes categorias de pessoas. Concluo esse ponto citando Albert BarnesO plano de Deus tem sido revelado a todas as classes de homens e a todas as raças, inclusive servos e chefes; vassalos e reis; pobres e ricos; ignorantes e sábios.


            III. A GRAÇA NO CONTEXTO DA REFORMA

1. A corrupção da doutrina da graça - MARTINHO LUTERO

Lutero foi um gigante da história; foi tão importante que certa vez foi descrito como um “oceano”. Há quem creia que tenha sido a figura europeia mais significativa do segundo milênio. Ele foi o Reformador pioneiro, o primeiro a quem Deus usou para produzir uma transformação do Cristianismo e do mundo ocidental. Foi, inquestionavelmente, o líder da Reforma alemã. Numa época de corrupção eclesiástica e apostasias, ele foi um valente campeão da verdade; sua poderosa pregação e pena ajudaram a restaurar o evangelho puro.

PERDIDO EM AUTOJUSTIÇA

No monastério, Lutero se viu arrastado à procura da aceitação de Deus através das obras. Ele escreveu: Torturei-me com oração, jejum, vigílias e congelamento; tal austeridade poderia ter-me matado. […] O que mais eu buscava agindo assim senão Deus, o qual presumivelmente via minha extremada observância da ordem monástica e minha vida austera? Eu andava constantemente em meio a um sonho e vivia em meio a uma idolatria real, porquanto não cria em Cristo: eu apenas o considerava um severo e terrível juiz, pintado como alguém sentado sobre um arco-íris.

Em outro lugar, ele relembra: “Quando eu era monge, esbaldei-me grandemente por quase quinze anos com sacrifício diário, torturei-me com jejuns, vigílias, orações e outras obras mui rigorosas. Sinceramente, eu cria que assim adquiriria justiça por meus próprios esforços.” Em 1507, Lutero foi ordenado ao sacerdócio. Quando celebrou sua primeira missa, enquanto segurava o pão e o cálice pela primeira vez, sentiu-se tão aterrado com a ideia da transubstanciação que quase desmaiou. Ele confessou: “Eu fiquei totalmente aturdido e tomado pelo terror. Pensava de mim mesmo: ‘Quem sou eu para elevar meus olhos ou minhas mãos à majestade divina? Pois não passo de pó e cinza e saturado de pecado, e estou falando ao Deus vivo, eterno e verdadeiro’.” O medo apenas se misturava à sua luta pessoal por aceitação junto a Deus. Em 1510, Lutero foi enviado a Roma, onde testemunhou a corrupção da igreja romana. Ele subiu a Scala Sancta (“A Escada Santa”), supostamente, a mesma escada pela qual Jesus subiu quando compareceu perante Pilatos. De acordo com as fábulas, os degraus foram levados de Jerusalém para Roma, e os sacerdotes alegavam que Deus perdoava os pecados de quem subisse aquela escada de joelhos. Lutero fez isso, repetindo a Oração do Senhor, beijando cada degrau e buscando a paz de Deus. Mas, quando chegou no topo, olhou para trás e pensou: “Quem sabe se isto é autêntico?”

Ele não se sentiu mais perto de Deus. Lutero recebeu seu grau de doutorado em teologia na Universidade de Wittenberg em 1512, e ali foi nomeado professor da Bíblia. Notavelmente, Lutero manteve esta posição pedagógica por quase trinta e quatro anos, até sua morte em 1546. Na sala de aula, antes de tudo ele prelecionava sobre os Salmos (1513–1515), Romanos (1515–1517) e Gálatas e Hebreus (1517–1519). Mas, quanto mais Lutero estudava, mais perplexo ficava. Uma dúvida o consumia: Como um homem pecador pode ser justo diante de um Deus santo?

TETZEL E A CONTROVÉRSIA SOBRE A INDULGÊNCIA

Em 1517, um dominicano itinerante chamado John Tetzel começou a vender indulgências nas proximidades de Wittenberg, oferecendo o perdão de pecados. Esta prática absurda fora inaugurada durante as cruzadas com o fim de arrecadar dinheiro para a igreja. Os cidadãos podiam comprar da igreja uma carta que supostamente livrava do purgatório um ente querido que havia morrido. Roma se beneficiou imensamente dessa impostura. Neste caso, essas rendas visavam ajudar o papa Leão X a pagar as despesas da nova basílica de São Pedro, em Roma. A famosa oferta de Tetzel era: “Assim que a moeda soa no fundo do cofre, a alma voa do purgatório.”


2. A restauração da doutrina graça - A graça de Deus. Cremos que todos os homens e mulheres foram atingidos pelo pecado a tal ponto que, embora tenham sido feitos à imagem de Deus, não podem, por si mesmos, chegar a Deus. Não há nada que o homem natural possua ou pratique que lhe faça merecida a graça de Deus. A Bíblia ensina: ״Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus” (Rm 3.11). A Bíblia qualifica essa condição espiritual como “mortos em pecado” (Cl 2.13) e “mortos em ofensas” (Ef 2.5). A ideia de morte, aqui, é de separação, e não de aniquilamento. Deus derrama sua graça, sem a qual o homem não pode entender as coisas e’s- pirituais, ou seja, foi Deus quem tomou a iniciativa na salvação, “do Senhor vem a salvação” (Jn 2.9), agindo em favor das pessoas. Graça é um favor imerecido. É por meio da graça que Deus ca- pacita o ser humano para que ele responda com fé ao chamado do evangelho: “Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça” (Rm 11.6). Todavia, os seres hu- manos, influenciados pela graça que habilita a livre escolha, são livres para escolher: “Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina, conhecerá se ela é de Deus ou se eu falo de mim mesmo” (Jo 7.17). Deus proveu a salvação para todas as pessoas, mas essa salvação aplica-se somente àquelas que creem: “isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem” (Rm 3.22). Nesse sentido, não há conflito entre a soberania de Deus e a liberdade humana


        IV. A GRAÇA NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO

1. A graça barateada - Uma vez que o inferno não era a opção preferida, a Igreja e seus teólogos desenvolveram uma série de práticas e exercícios para ajudar pessoas a evitá-lo. A ironia era que, ao tentar prover segurança em um mundo inseguro, a Igreja espelhava, em grande medida, os novos desenvolvimentos urbanos e econômicos que exacerbavam a insegurança humana. Suspenso entre esperança e medo, o indivíduo tinha que alcançar seu propósito por intermédio de todo um sistema de serviços quid pro quo que refletiam a nova “mentalidade fiscal” do burguês urbano, absorvido na crescente economia de lucro. Tomado como um todo, a cristandade do fim da Idade Média parecia tão baseada em performance quanto os novos empreendimentos da época.

O próprio esforço da teologia e prática pastoral do fim da idade medieval de prover segurança apenas levava um mundo inseguro a uma insegurança ainda maior e à incerteza sobre a salvação. Uma das ideias escolásticas-chave que levaram a essa incerteza sobre a salvação era expressa na frase facere quod in se est: “faz o que está dentro de ti; faz teu melhor”. Ou seja, lutar para amar a Deus da melhor forma possível — por mais fraca que seja — fará com que ele recompense os esforços de alguém com a graça necessária para fazer algo ainda melhor. A vida de peregrinação do cristão em direção à cidade celestial era cada vez mais percebida não apenas do ponto de vista literal, mas como também do teológico, na forma de uma economia da salvação. Conforme mencionado anteriormente, essa “matemática da salvação” se concentrava no alcance máximo de boas obras com o fim de merecer a recompensa de Deus. Tanto na religião quanto no início do capitalismo, o trabalho contratual merecia recompensa. Indivíduos eram responsáveis por sua própria vida, pela sociedade e pelo mundo dentro dos limites estipulados por Deus e com base neles. Cuidado pastoral tinha a intenção de prover um meio de segurança por meio da participação humana no processo da salvação. Essa teologia, no entanto, aumentava o senso de crise porque lançava as pessoas de volta aos seus próprios recursos. Isto é: não importa quão cheias de graça eram suas obras, o fardo da prova para essas boas obras caía outra vez nos ombros do praticante, dentre os quais o mais sensível passava a se perguntar como poderia saber se tinha feito o melhor.


2. O valor da graça - A completa falta de controle sobre o próprio destino, conforme era a sorte dos homens expostos nos mercados de escravos, nos dias de Paulo, era algo sentido intensamente, por causa do fato de ser isso uma realidade brutal na antiga estrutura social. O homem moderno, que nada tem conhecido sobre a escravidão em primeira mão, não pode apreciar plenamente o impacto das ilustrações apresentadas por Paulo, que incluem certos aspectos próprios do negócio de compra e venda de escravos. O homem ou a mulher comprados por um negociante de escravos se tornava a propriedade dele no sentido mais estrito da palavra. Tinha tal senhor a liberdade de matar um escravo seu, o que geralmente era feito através da crucificação. E não havia lei que pudesse chamá-lo a prestar contas perante a justiça. De fato, qualquer tentativa nesse sentido teria sido reputada ridícula. Certa quantia em dinheiro adquiria o direito de usar legalmente a pessoa escravizada; e se havia alguns poucos senhores humanos, havia um número enorme de senhores desumanos, do que resultavam muitíssimas atrocidades contra toda a razão e a dignidade humanas. O uso da instituição da escravatura dava a entender os seguintes pontos:

A sujeição total do escravo a seu senhor.

A posse completa do escravo por seu senhor.

O poder de vida e morte que o senhor exercia sobre o escravo.

A «destruição» da independência do escravo.

A integração da personalidade do escravo na personalidade de seu senhor.

Somente a morte física podia livrar um escravo do domínio de seu senhor, ou, se um senhor assim quisesse fazê-lo, poderia vender um escravo seu a outrem, havendo assim a transferência de direitos sobre o o citado escravo. Neste versículo, o apóstolo Paulo enfatiza a exclusividade da posse do senhor de escravos, a fim de descrever uma situação espiritual.

(Comparar com o trecho de Rom. 7:2). Todo escravo só podia ter um senhor de cada vez, o qual exercia toda a autoridade sobre ele.

Paulo lança mão da instituição da escravatura a fim de ilustrar o seu ponto de que o crente deve viver em total submissão a Cristo; a fim de ilustrar que Jesus Cristo, por direito de compra, através de seu sangue expiatório, que libertou os escravos do pecado da tirania do pecado, tem direitos totais sobre o crente; a fim de ilustrar o fato de que, possuindo «direitos totais», Cristo tem autoridade completa sobre o crente; a fim de ilustrar que o crente deixa de ser um indivíduo, mas que a sua personalidade começa a ser integrada na vontade do seu Senhor; e a fim de ilustrar que nem mesmo a morte física pode livrar o crente de sua total imersão na personalidade de Cristo, porquanto lhe pertencemos tanto na vida como na morte. (Ver Rom. 14:8). A enormidade do preço·. O ponto central deste versículo gira em torno do «preço» que foi pago para garantir a libertação do crente. A redenção faz com que o crente se torne totalmente pertencente a Cristo, visto que o preço pago pelo Filho de Deus foi enorme. (Ver as notas expositivas sobre a «expiação», em Rom. 5:11; e sobre a «propiciação», em Rom. 3:25). A «enormidade» do preço foi exposta visando impressionar os crentes acerca da totalidade do senhorio de Cristo sobre a sua igreja e sobre cada indivíduo existente na mesma.

O presente versículo é paralelo ao trecho de I Cor. 6:20, com uma aplicação diferente, embora ambas essas passagens falem sobre o «preço» pago para conduzir os homens de volta a Deus. (Ver as notas expositivas sobre I Cor. 6:20, onde essas ideias são expandidas). A ideia de «ser comprado por preço», isto é, a noção de «resgate», são expressões comuns do N.T. para dar a ideia de «expiação», o que é ilustrado através de outras referências bíblicas, nas notas expositivas acima aludidas. Ali, a posse «exclusiva» é usada como argumento contra a imoralidade, que consiste do abuso do corpo de maneiras não aprovadas pelo Senhor Jesus. Aqui, entretanto, a posse exclusiva é mencionada a fim de mostrar como o crente não pode deixar-se escravizar por outro homem (na outra porção deste versículo), embora, de maneira geral, isso também ilustra a qualidade da nossa submissão a Cristo, mostrando que nossa servidão é total, e que todos os crentes são escravos dessa ordem. Disso se conclui que é questão indiferente que um crente, que nasceu escravo ou que se tornou escravo no decurso de seus anos, venha a procurar tornar-se livre. Pois, sem importar que estejam «livres» ou em «servidão», conforme os homens consideram a questão, a verdade é que todos os crentes se encontram em verdadeira servidão ao verdadeiro Senhor, Jesus Cristo, ainda que seja assim que realmente desfrutem da mais completa liberdade que os homens possam conhecer.



AUTOR: PB. José Egberto S. Junio, formato em teologia pelo IBAD, Superintendente e Profº da EBD. Casado com a Mª Lauriane, onde temos um casal de filhos (Wesley e Rafaella). Membro da igreja Ass. De Deus, Min. Belém setor 13, congregação do Boa Vista 2. Endereço da igreja Rua Formosa, 534 – Boa Vista Suzano SP.

Pr. Setorial – Pr. Davi Fonseca

Pr. Local – Ev. Antônio Sousa

INSTAGRAN: @PBJUNIOOFICIAL

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                                                  BIBLIOGRAFIA

         



Livro Maravilhosa Graça, Philip Yancey - ed. Vida Nova

Livro Teologia Sistemática, Stanley Horton - ed. CPAD

Livro Maravilhosa Graça! O evangelho de Jesus Cristo revelado na carta aos Romanos, José Gonçalves - ed. CPAD

Livro Justiça e Graça, Natalino das Neves - ed. CPAD

Comentário Bíblico Tito e Filemon, Hernandes Dias Lopes - ed. Hagnos

Livro Pilares da Graça, Steven J. Lawson - ed. Fiel

Declaração de Fé das Assembléias de Deus, Esequias Soares - ed. CPAD

Livro História da Reforma, Carter Lindeberg - ed. Thomas N. Brasil

Comentário Bíblico NT, Russell N. Champlin - ed. Hagnos

https://professordaebd.com.br/2-licao-3-tri-22-a-sutileza-da-banalizacao-da-graca/

3 comentários:

  1. Paz do Senhor!
    Irmaos e amigos, tudo bem?
    Espero que a abertura deste novo trimestre tenha sido uma bênção em vcs igrejas!!!!

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  2. Meus amigos e irmãos, se possível compartilhem com seus contatos.

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  3. Muito bom o assunto. Deus continue te abençoando de sua esposa Maria Lauriane

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