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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

LIÇÃO 9 - A SUTILEZA DO MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS.

PROFº PB. JUNIO - CONGREGAÇÃO
BOA VISTA II.


                            TEXTO ÁUREO

"Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes, admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele dia." (HB 10.25)


                        VERDADE PRÁTICA

O movimento dos "desigrejados" deve ser visto como um desvio da verdadeira espiritualidade que é expressa no contexto da verdadeira Igreja.


     LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: HB 10.19-25


                            INTRODUÇÃO

O termo “desigrejado” é usado para rotular aqueles que estão fora das denominações evangélicas. Esse termo é muitas vezes usado pejorativamente, marginalizando assim aqueles que por um motivo ou outro decidiram ficar de fora das instituições religiosas – especialmente as evangélicas. No passado, os crentes que saiam das igrejas evangélicas, eram chamado de “desviados”. Neste último caso, os desviados eram pessoas que as vezes se entregavam aos vícios e ao mundanismo. No caso dos “desigrejados”, temos um fenômeno novo no meio evangélico. O “desigrejado” é uma espécie de evangélico não praticante, caso este que ocorria somente dentro do catolicismo romano. É comum ouvirmos falar sobre católicos não praticantes, mas, no caso dos evangélicos, realmente temos um fenômeno novo. Neste e-book, o termo “desigrejado” será sempre tratado entre aspas, pois entendo que estar fora dos templos não é o mesmo que estar fora da Igreja que é o Corpo místico de Cristo. Os “desigrejados” são marginalizados de várias formas. Mesmo na mais boa intenção possível por parte de seus críticos, eles acabam ficando à margem da comunidade evangélica, sendo mal vistos. O reverendo Augustus Nicodemus Lopes expressa esse tipo opinião, quando disse que “viver sem igreja está errado”. Outros passam dos limites e acabam levantando questões como: “Há salvação para os desigrejados? Sem líderes, sem pastores, como assim? Quem sai da igreja por causa de pessoas nunca entrou lá por causa de Jesus”, ou ainda: “Noventa por cento dos desigrejados são o pior do sistema”.


            I. VISÃO E PRÁTICA DO MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS

1. Um ensino anti-institucionalMuitos livros recentes têm defendido a desigrejação do cristianismo (*). Em linhas gerais, os desigrejados defendem os seguintes pontos. 

1) Cristo não deixou qualquer forma de igreja organizada e institucional. 2) Já nos primeiros séculos os cristãos se afastaram dos ensinos de Jesus, organizando-se como uma instituição, a Igreja, criando estruturas, inventando ofícios para substituir os carismas, elaborando hierarquias para proteger e defender a própria instituição, e de tal maneira se organizaram que acabaram deixando Deus de fora. Com a influência da filosofia grega na teologia e a oficialização do cristianismo por Constantino, a igreja corrompeu-se completamente. 3) Apesar da Reforma ter se levantado contra esta corrupção, os protestantes e evangélicos acabaram caindo nos mesmíssimos erros, ao criarem denominações organizadas, sistemas interligados de hierarquia e processos de manutenção do sistema, como a disciplina e a exclusão dos dissidentes, e ao elaborarem confissões de fé, catecismos e declarações de fé, que engessaram a mensagem de Jesus e impediram o livre pensamento teológico. 4) A igreja verdadeira não tem templos, cultos regulares aos domingos, tesouraria, hierarquia, ofícios, ofertas, dízimos, clero oficial, confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas, seminários. 5) De acordo com Jesus, onde estiverem dois ou três que crêem nele, ali está a igreja, pois Cristo está com eles, conforme prometeu em Mateus 18. Assim, se dois ou três amigos cristãos se encontrarem no Frans Café numa sexta a noite para falar sobre as lições espirituais do filme O Livro de Eli, por exemplo, ali é a igreja, não sendo necessário absolutamente mais nada do tipo ir à igreja no domingo ou pertencer a uma igreja organizada. 6) A igreja, como organização humana, tem falhado e caído em muitos erros, pecados e escândalos, e prestado um desserviço ao Evangelho. Precisamos sair dela para podermos encontrar a Deus.  

Eu concordo com vários dos pontos defendidos pelos desigrejados. Infelizmente, eles estão certos quanto ao fato de que muitos evangélicos confundem a igreja organizada com a igreja de Cristo e têm lutado com unhas e dentes para defender sua denominação e sua igreja, mesmo quando estas não representam genuinamente os valores da Igreja de Cristo. Concordo também que a igreja de Cristo não precisa de templos construídos e nem de todo o aparato necessário para sua manutenção. Ela, na verdade, subsistiu de forma vigorosa nos quatro primeiros séculos se reunindo em casas, cavernas, vales, campos, e até cemitérios. Os templos cristãos só foram erigidos após a oficialização do Cristianismo por Constantino, no séc. IV.  

Os desigrejados estão certos ao criticar os sistemas de defesa criados para perpetuar as estruturas e a hierarquia das igrejas organizadas, esquecendo-se das pessoas e dando prioridade à organização. Concordo com eles que não podemos identificar a igreja com cultos organizados, programações sem fim durante a semana, cargos e funções como superintendente de Escola Dominical, organizações internas como uniões de moços, adolescentes, senhoras e homens, e métodos como células, encontros de casais e de jovens, e por ai vai. E também estou de acordo com a constatação de que a igreja institucional tem cometido muitos erros no decorrer de sua longa história. Dito isto, pergunto se ainda assim está correto abandonarmos a igreja institucional e seguirmos um cristianismo em voo solo. Pergunto ainda se os desigrejados não estão jogando fora o bebê junto com a água suja da banheira. Ao final, parece que a revolta deles não é somente contra a institucionalização da igreja, mas contra qualquer coisa que imponha limites ou restrições à sua maneira de pensar e de agir. Fico com a impressão que eles querem se livrar da igreja para poderem ser cristãos do jeito que entendem, acreditarem no que quiserem – sendo livres pensadores sem conclusões ou convicções definidas – fazerem o que quiserem, para poderem experimentar de tudo na vida sem receio de penalizações e correções. Esse tipo de atitude anti-instituição, antidisciplina, anti-regras, anti-autoridade, antilimites de todo tipo se encaixa perfeitamente na mentalidade secular e revolucionária de nosso tempo, que entra nas igrejas travestida de cristianismo. 

É verdade que Jesus não deixou uma igreja institucionalizada aqui neste mundo. Todavia, ele disse algumas coisas sobre a igreja que levaram seus discípulos a se organizarem em comunidades ainda no período apostólico e muito antes de Constantino. 

1) Jesus disse aos discípulos que sua igreja seria edificada sobre a declaração de Pedro, que ele era o Cristo, o Filho do Deus vivo (Mt 16.15-19). A igreja foi fundada sobre esta pedra, que é a verdade sobre a pessoa de Jesus (cf. 1Pd 2.4-8). O que se desviar desta verdade – a divindade e exclusividade da pessoa de Cristo – não é igreja cristã. Não admira que os apóstolos estivessem prontos a rejeitar os livre-pensadores de sua época, que queriam dar uma outra interpretação à pessoa e obra de Cristo diferente daquela que eles receberam do próprio Cristo. As igrejas foram instruídas pelos apóstolos a rejeitar os livre-pensadores como os gnósticos e judaizantes, e libertinos desobedientes, como os seguidores de Balaão e os nicolaítas (cf. 2Jo 10; Rm 16.17; 1Co 5.11; 2Ts 3.6; 3.14; Tt 3.10; Jd 4; Ap 2.14; 2.6,15). Fica praticamente impossível nos mantermos sobre a rocha, Cristo, e sobre a tradição dos apóstolos registrada nas Escrituras, sem sermos igreja, onde somos ensinados, corrigidos, admoestados, advertidos, confirmados, e onde os que se desviam da verdade apostólica são rejeitados. 

2) A declaração de Jesus acima, que a sua igreja se ergue sobre a confissão acerca de sua Pessoa, nos mostra a ligação estreita, orgânica e indissolúvel entre ele e sua igreja. Em outro lugar, ele ilustrou esta relação com a figura da videira e seus galhos (João 15). Esta união foi muito bem compreendida pelos seus discípulos, que a compararam à relação entre a cabeça e o corpo (Ef 1.22-23), a relação marido e mulher (Ef 5.22-33) e entre o edifício e a pedra sobre o qual ele se assenta (1Pd 2.4-8). Os desigrejados querem Cristo, mas não querem sua igreja. Querem o noivo, mas rejeitam sua noiva. Mas, aquilo que Deus ajuntou, não o separe o homem. Não podemos ter um sem o outro. 

3) Jesus instituiu também o que chamamos de processo disciplinar, quando ensinou aos seus discípulos de que maneira deveriam proceder no caso de um irmão que caiu em pecado (Mt 18.15-20). Após repetidas advertências em particular, o irmão faltoso, porém endurecido, deveria ser excluído da “igreja” – pois é, Jesus usou o termo – e não deveria mais ser tratado como parte dela (Mt 18.17). Os apóstolos entenderam isto muito bem, pois encontramos em suas cartas dezenas de advertências às igrejas que eles organizaram para que se afastassem e excluíssem os que não quisessem se arrepender dos seus pecados e que não andassem de acordo com a verdade apostólica. Um bom exemplo disto é a exclusão do “irmão” imoral da igreja de Corinto (1Co 5). Não entendo como isto pode ser feito numa fraternidade informal e livre que se reúne para bebericar café nas sextas à noite e discutir assuntos culturais, onde não existe a consciência de pertencemos a um corpo que se guia conforme as regras estabelecidas por Cristo. 

4) Jesus determinou que seus seguidores fizessem discípulos em todo o mundo, e que os batizassem e ensinassem a eles tudo o que ele havia mandado (Mt 28.19-20). Os discípulos entenderam isto muito bem. Eles organizaram os convertidos em igrejas, os quais eram batizados e instruídos no ensino apostólico. Eles estabeleceram líderes espirituais sobre estas igrejas, que eram responsáveis por instruir os convertidos, advertir os faltosos e cuidar dos necessitados (At 6.1-6; At 14.23). Definiram claramente o perfil destes líderes e suas funções, que iam desde o governo espiritual das comunidades até a oração pelos enfermos (1Tm 31-13; Tt 1.5-9; Tg 5.14). 

5) Não demorou também para que os cristãos apostólicos elaborassem as primeiras declarações ou confissões de fé que encontramos (cf. Rm 10.9; 1Jo 4.15; At 8.36-37; Fp 2.5-11; etc.), que serviam de base para a catequese e instrução dos novos convertidos, e para examinarem e rejeitarem os falsos mestres. Veja, por exemplo, João usando uma destas declarações para repelir livre-pensadores gnósticos das igrejas da Ásia (2Jo 7-10; 1Jo 4.1-3). Ainda no período apostólico já encontramos sinais de que as igrejas haviam se organizado e estruturado, tendo presbíteros, diáconos, mestres e guias, uma ordem de viúvas e ainda presbitérios (1Tm 3.1; 5.17,19; Tt 1.5; Fp 1.1; 1Tm 3.8,12; 1Tm 5.9; 1Tm 4.14). O exemplo mais antigo que temos desta organização é a reunião dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém para tratar de um caso de doutrina – a inclusão dos gentios na igreja e as condições para que houvesse comunhão com os judeus convertidos (At 15.1-6). A decisão deste que ficou conhecido como o “concílio de Jerusalém” foi levada para ser obedecida nas demais igrejas (At 16.4), mostrando que havia desde cedo uma rede hierárquica entre as igrejas apostólicas, poucos anos depois de Pentecostes e muitos anos antes de Constantino. 

6) Jesus também mandou que seus discípulos se reunissem regularmente para comer o pão e beber o vinho em memória dele (Lc 22.14-20). Os apóstolos seguiram a ordem, e reuniam-se regularmente para celebrar a Ceia (At 2.42; 20.7; 1Co 10.16). Todavia, dada à natureza da Ceia, cedo introduziram normas para a participação nela, como fica evidente no caso da igreja de Corinto (1Co 11.23-34). Não sei direito como os desigrejados celebram a Ceia, mas deve ser difícil fazer isto sem que estejamos na companhia de irmãos que partilham da mesma fé e que creem a mesma coisa sobre o Senhor.  

É curioso que a passagem predileta dos desigrejados – “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20) – foi proferida por Jesus no contexto da igreja organizada. Estes dois ou três que ele menciona são os dois ou três que vão tentar ganhar o irmão faltoso e reconduzi-lo à comunhão da igreja (Mt 18.16). Ou seja, são os dois ou três que estão agindo para preservar a pureza da igreja como corpo, e não dois ou três que se separam dos demais e resolvem fazer sua própria igrejinha informal ou seguir carreira solo como cristãos.  

O meu ponto é este: que muito antes do período pós-apostólico, da intrusão da filosofia grega na teologia da Igreja e do decreto de Constantino – os três marcos que segundo os desigrejados são responsáveis pela corrupção da igreja institucional – a igreja de Cristo já estava organizada, com seus ofícios, hierarquia, sistema disciplinar, funcionamento regular, credos e confissões. A ponto de Paulo se referir a ela como “coluna e baluarte da verdade” (1Tm 3.15) e o autor de Hebreus repreender os que deixavam de se congregar com os demais cristãos (Hb 10.25). O livro de Atos faz diversas menções das “igrejas”, referindo-se a elas como corpos definidos e organizados nas cidades (cf. At 15.41; 16.5; veja também Rm 16.4,16; 1Co 7.17; 11.16; 14.33; 16.1; etc. – a relação é muito grande).  

No final, fico com a impressão que os desigrejados, na verdade, não são contra a igreja organizada meramente porque desejam uma forma mais pura de Cristianismo, mais próxima da forma original – pois esta forma original já nasceu organizada e estruturada, nos Evangelhos e no restante do Novo Testamento. Acho que eles querem mesmo é liberdade para serem cristãos do jeito deles, acreditar no que quiserem e viver do jeito que acham correto, sem ter que prestar contas a ninguém. Pertencer a uma igreja organizada, especialmente àquelas que historicamente são confessionais e que têm autoridades constituídas, conselhos e concílios, significa submeter nossas ideias e nossa maneira de viver ao crivo do Evangelho, conforme entendido pelo Cristianismo histórico. Para muitos, isto é pedir demais.  Eu não tenho ilusões quanto ao estado atual da igreja. Ela é imperfeita e continuará assim enquanto eu for membro dela. A teologia Reformada não deixa dúvidas quanto ao estado de imperfeição, corrupção, falibilidade e miséria em que a igreja militante se encontra no presente, enquanto aguarda a vinda do Senhor Jesus, ocasião em que se tornará igreja triunfante. Ao mesmo tempo, ensina que não podemos ser cristãos sem ela. Que apesar de tudo, precisamos uns dos outros, precisamos da pregação da Palavra, da disciplina e dos sacramentos, da comunhão de irmãos e dos cultos regulares. Cristianismo sem igreja é uma outra religião, a religião individualista dos livre-pensadores, eternamente em dúvida, incapazes de levar cativos seus pensamentos à obediência.

2. Um ensino anticlericalOS DECEPCIONADOS COM A LIDERANÇA

Campos aponta que muitos cristãos acabam rompendo seus laços com a igreja institucional por causa de abusos cometidos pelas lideranças das comunidades (CAMPOS, 2017, p.31). Nesses casos, como observa César,9a sensibilidade parece ser essencial:Caminhar sobre o solo do tema abuso espiritual exige cuidado […] O solo é sagrado. Não é outro senão o coração de vítimas. As vítimas estão sempre fragilizadas e carregam consigo suas dores na carne e na alma. Jesus ensina a pisar no solo sagrado da intimidade com a cautela amorosa de quem não quer apagar o pavio que fumega […] Implica o sopro singelo para que a chama se recupere desde as cinzas e o carinho necessário para que as feridas encontrem o caminho da cura (CÉSAR, 2013, p.11). Os diferentes grupos estudados por Rodrigues apresentaram justificativas das mais diversas para o descontentamento com a igreja, mas algumas críticas se repetiram. São elas: o mercenarismo, excesso de normas, manipulação, fanatismo, intolerância, hipocrisia, falsidade e incoerência. Ainda foram citados: a reprovação ao comportamento das lideranças religiosas, desapontamentos pessoais e até notícias veiculadas pela mídia (RODRIGUES, 2007, p.45).A partir de relatos verdadeiros, César pinta um retrato da realidade religiosa de boa parte das igrejas evangélicas brasileiras. Seu estudo identifica a existência de uma espécie de “manipulação da fé”, o que, segundo ela, pode trazer consequências graves. Ela escreve: “Quando a fé se deixa manipular, pessoas viram presas fáceis de toda sorte de abuso.  

A confiança autêntica e sincera em Deus é gradualmente substituída pela submissão acrítica aos desmandos de lideranças despreparadas” (CÉSAR, 2013, p.117). De maneira geral, pessoas simples e carentes de acolhimento acabam se tornando mais suscetíveis à manipulação, passando a viver sob o jugo de uma religiosidade “fútil e meritória”, barganhando a todo momento com Deus (CÉSAR, 2013, p.117). Campos traz também uma série de relatos de pessoas que passaram por situações semelhantes (cf. CAMPOS, 2017, p.31-48). César  destaca  que  esse  tipo  de  “regime  autocrático”,  centrado  na  figura carismática do pastor evangélico, predomina nas igrejas mais novas, em especial nas pentecostais e neopentecostais. E, nelas, facilita a ocor-rência de excessos de ordem financeira, emocional e psicológica (CÉSAR, 2013, p.119). Esses excessos acabam dando origem a outro fenômeno muito perceptível na sociedade: o trânsito religioso, que será tratado mais adiante. Lopes também chama atenção para o fato de que várias das pessoas que hoje estão desigrejadas tentaram viver a sua fé no meio evangélico, inclusive em diferentes denominações. Com o passar do tempo, acabaram se sentindo exploradas e enganadas. São indivíduos que não só não frequentam mais os templos, mas estão feridos e blindados para toda e qualquer forma de organização eclesiástica (LOPES, 2019). Como lembra Bomilcar, pessoas que estão machucadas por experiências negativas naturalmente resistem a novas experiências, pois simplesmente estão cansadas de tentar (BOMILCAR, 2012, p.25). Com o passar do tempo, esse cansaço acaba se misturando a um sentimento de revolta que brota do legalismo e de promessas não cumpridas, somado ao discurso hipócrita de muitos pastores. César traz o relato de alguém que passou por essa situação durante vários anos de sua vida: Comecei a achar que Deus tinha pisado na bola comigo. Eu obedeci a tudo o que ele me dissera (supostamente pela boca dos líderes da igreja), e acabei me dando mal. Prejudiquei minha casa indo para aquela igreja. Desde então, não consigo me reerguer […] Faz dez meses que não abro a Bíblia e, quando vejo pastores pregando na televisão, sinto vontade de vomitar (CÉSAR, 2013, p.34). Além de contribuir para o afastamento da igreja, essa realidade pro-duz questionamentos à própria fidelidade de Deus, bem como sentimentos de vergonha e indignação que passam a acompanhar a vida dos desigrejados (CAMPOS, 2017, p.34). Conforme foi destacado no início deste tópico, este é um assunto que demanda cuidado. Muitos dos desigrejados possuem feridas abertas em sua relação com a instituição igreja, o que acaba se refletindo em sua experiência de fé. Da mesma forma, esta compreensão mostra-se fundamental para qualquer iniciativa missional direcionada à reintegração destas pessoas no convívio de uma comunidade cristã.


            II.  A NATUREZA DA IGREJA NEOTESTAMENTÁRIA

1. Um organismoOra, no paralelo desta passagem —Col. 1:18— Cristo é visto como «o Cabeça da igreja»; e isso concorda com a primeira dessas três posições possíveis, embora a ênfase recaia sobre o fato de que ele é o Cabeça da igreja em tudo, a saber, em toda a questão relativa à igreja cristã. Que isso visa o «benefício» da igreja também é verdade, mas isso visa afirmar diretamente que temos aqui uma interpretação sobre o que está geralmente implícito no texto, não sendo uma simples tradução. Porém, mesmo que aceitemos que a segunda e a terceira dessas possibilidades estão corretas, visto que Cristo é o Cabeça de tudo, isso deve incluir igualmente a igreja, porquanto a igreja não pode ser excluída dessa afirmação apostólica, que se reveste de natureza geral. Não obstante, a primeira dessas três posições é a que tem maiores probabilidades de acertar no alvo, sendo ali enfatizado que não existe outra autoridade sobre a igreja além da autoridade de Cristo, tal como um corpo humano é totalmente governado pelo cérebro, pela cabeça.

Ora, tudo isso serve apenas de um outro meio para frisar o senhorio de Cristo, o que é comentado no trecho de Rom. 1:4, juntamente com o título completo, «Senhor Jesus Cristo».

«…o deu…» A igreja recebe a soberania total de Cristo como presente vindo de Deus Pai, para o benefício dela mesma. Porquanto aquilo que foi dito aqui não declara meramente que a igreja está sujeita à autoridade de Cristo, mas, por semelhante modo,, que está em união espiritual vital com ele, derivando dele a sua vida, tal como o corpo está vitalmente unido à cabeça, e tal como, sem a cabeça, o corpo fica sem vida.

(Quanto a «Cristo, como cabeça de todo homem», ver as notas expositivas acerca de I Cor. 11:3. Quanto ao mesmo conceito, referido em outras passagens, onde Cristo aparece como «Cabeça da igreja», ver Efé. 4:15; 5:23; Col. 1:18 e 2:19).

A mais fundamental definição do que seja um crente’. Crente é aquele que tem ao Senhor Jesus como seu «cabeça», isto é, que não dá prioridade a ninguém acima de Cristo. A questão de «reter a Cristo como cabeça», ideia essa que figura em Col. 2:19, aparece dentro do contexto do combate de Paulo contra as noções falsas do gnosticismo, o qual postulava muitos deuses e muitos senhores, cada qual com sua província de governo; e, para os gnósticos, Cristo seria apenas um desses deuses ou senhores. Ora, esse conceito errôneo reduzia a importância e a grandeza de Cristo, onde o Senhor Jesus não aparecia realmente como Cabeça. Aquele que reputa a. Cristo como Cabeça, reconhece sua autoridade absoluta sobre a alma, e assim exerce fé, que consiste da entrega da alma às mãos de Cristo. Ora, se um homem exerce essa fé, tendo a Cristo como Cabeça, como o grande objeto de sua fé, então o Espírito de Deus o converte, e ele entra no primeiro passo da regeneração. Tal. homem pertence a Cristo, é um crente. ______  Por outro lado, pode não ser um crente uma pessoa que proclama em altas vozes a divindade de Cristo, mas a quem não entregou definitivamente a própria alma. F. isso nos permite perceber, uma vez mais, que os «credos» não nos salvam. Deve haver real conversão; e existem muitos convertidos autênticos que ainda se encontram em estado de confusão mental acerca de questões doutrinárias. _________  Vinculação entre a cabeça e o corpo. Schubert (in loc.), comenta a esse respeito, como segue: «…temos aqui uma figura simbólica de amor, que desce do alto até nós, conquistando e movimentando o que é corpóreo, levando-o a uma longa elevação, —debaixo para cima, numa obra que transforma constantemente a natureza inferior do objeto, a ponto deste último vir a compartilhar, finalmente, da natureza daquilo que o eleva».

Cristo Jesus é, «…ao mesmo tempo, membro e governante do corpo». (Gerlach, in loc.).

Quais são os sentidos dessa metáfora da cabeça e do corpo?

Está em foco a união vital entre Cristo e seu corpo místico, a igreja, tal como se dá no caso da cabeça e do corpo de um ser humano. «União mística» é a ideia aqui focalizada. _____  Destaca-se aqui a autoridade absoluta de Jesus Cristo, de seu domínio ativo sobre a igreja, como Senhor. São salientadas a nutrição e o poder doador de vida do Cabeça, o que sustenta o corpo. A vida do corpo humano sem a cabeça é impossível. _______  Não nos olvidemos da união entre cabeça e corpo, que importa em amor e harmonia, em que cada qual cuida do outro, porquanto tal cuidado é vital para essa união. Tal união e harmonia prefiguram aquilo que, finalmente, se tornará universal, porquanto todas as coisas ficarão unidas em torno de Cristo.  ___  Cristo pertence a nós, tal como nós mesmos pertencemos a ele; portanto, nossos destinos estão enlaçados para sempre, tal como se dá no caso da cabeça e seu corpo. _____  A exaltação do corpo é ideia latente nessa metáfora, porquanto os poderes angelicais exaltados, por mais elevados que sejam, não compõem o corpo de Cristo, o qual é o Cabeça de tudo. O vigésimo terceiro versículo enfatiza esse pensamento, ao chamar a igreja de «sua plenitude», ao passo que o próprio Cristo preenche a todas as coisas. _____  A participação na mesma natureza também está envolvida nessa metáfora, porquanto um corpo precisa ser da mesma natureza que sua cabeça.

2. Uma organizaçãoO corpo é uno. Sua principal característica é a unidade. Todos os que creem em Cristo são um, fazem parte do mesmo corpo, da mesma família, do mesmo rebanho. Essa unidade não é organizacional nem denominacional, mas espiritual. Nós confessamos o mesmo Senhor (12.1-3), dependemos do mesmo Deus (12.4-6), ministramos no mesmo corpo (12.7-11), e experimentamos o mesmo batismo (12.12,13).

Peter Wagner cita dois fatores que mantêm a unidade do corpo:

  1. a) O sangue. Pode ser difícil estabelecer a unidade entre meus pés, minhas mãos e meus rins. Contudo, o mesmo sangue alimenta esses membros e todos os outros.

O sangue fornece vida aos membros e se impedirmos o sangue de chegar a alguns deles, esses morrerão rapidamente. _____   O que é que me enxerta e me insere no corpo de Cristo?  _____  O que me torna um membro do Seu corpo? E o sangue do Cordeiro! Assim como o sangue é o elemento que unifica o corpo, o sangue de Cristo nos torna um. ____  Ninguém pode fazer parte da igreja a não ser por meio da expiação, da obra da redenção operada pelo sangue de Jesus Cristo. Ninguém entra na igreja sem primeiro ter se apropriado dos benefícios da morte de Cristo e do Seu sangue derramado.

b) O espírito. Além do sangue, o que mantém o corpo uno é o espírito. Nunca descobriremos o espírito ou a alma de uma pessoa em algum de seus órgãos, membros ou glândulas. Em certo sentido, o espírito está em todos os membros do corpo. Em relação à igreja, diz o apóstolo Paulo: “Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo” (12.13). O Espírito Santo foi quem enxertou você no corpo. Você foi batizado e introduzido no corpo pelo Espírito. Quem colocou você no corpo foi o Espírito Santo. Ele regenerou você, mudou a sua vida, converteu o seu coração. Um membro do corpo pode ser mais cheio do que outro membro, mas nenhum membro está sem o Espírito. Ser batizado pelo Espírito significa pertencer ao Corpo de Cristo. Ser cheio do Espírito significa que nosso corpo pertence a Cristo.

Obviamente, essa unidade de que Paulo fala não é denominacional.

Não é uma unidade externa, mas mística e espiritual. E por isso que o ecumenismo é um grande equívoco. Qual é a grande bandeira do ecumenismo? E a de que nós temos de acabar com as nossas diferenças e ficar todos debaixo de um mesmo guarda-chuva. Não importa a sua crença. Não importa a sua teologia. Não importa o Deus que você crê. Vamos ficar juntos. Vamos adorar no mesmo altar. Mas esse não é o ensino das Escrituras. Não existe unidade fora da verdade. Não há unidade fora do Espírito Santo. _____  E impossível ser um com alguém que ainda não nasceu de novo e ainda não foi introduzido no Corpo de Cristo. ______  Essa unidade é para os salvos que estão nas mais diversas denominações cristãs, mas não é uma unidade entre salvos e incrédulos. A unidade da igreja é espiritual. Você é um com qualquer irmão de qualquer denominação, em qualquer lugar do mundo. Essa unidade não é criada na terra, mas no céu; não é feita pelo homem, mas por Deus. Todos aqueles que creem em Cristo, de todos os lugares, de todos os tempos são um. Todos fazem parte da mesma igreja, do mesmo rebanho. Todos são ovelhas de Cristo e noiva do Cordeiro.


            III. A IMPORTÂNCIA E A  NECESSIDADE DA IGREJA

1. A igreja como família de Deus …da família de Deus …» No grego temos «oikeioi», estando em foco os «familiares de Deus». A ideia de «filiação» é apresentada novamente aqui, porque é no seio da família que encontramos a unidade mais íntima, onde também são compartilhados os privilégios mais preciosos. Mas devemos fazer o reparo que apesar da «família» antiga, segundo se compreende por esta palavra, com frequência incluía até mesmo «escravos», neste caso devemos compreender somente os parentes de sangue, conforme se entende modernamente tal palavra. Estão em foco os membros da família «por laços de sangue», por «natureza», aqueles que participam da mesma natureza.

Nessa família não há escravos.

A passagem de João 1:12 salienta a ideia de «filhos por nascimento», e não meramente «filhps por adoção», mediante um contrato legal; e a mesma ideia é enfatizada no oitavo capítulo da epístola aos Romanos. _______   Dentro de uma família, os direitos, os privilégios, os deveres e as bênçãos são compartilhados por todos os seus membros. Ora, dentro da família de Deus, o amor é o princípio normativo, e não a lei. (Quanto a passagens bíblicas que frisam a ideia de «família» inerente à redenção anunciada pelo evangelho, ver Efé. 3:6,14,15; I Tim. 3:15; Heb. 3:2,5,6; 10:21 e I Ped. 4:17). Essa relação «familiar» ou doméstica descreve a «natureza» do acesso mencionado no décimo oitavo versículo deste capítulo, e que antecipa o tema declarando que esse acesso é a «Deus Pai».

2. A igreja como testemunha da salvação - «…sacerdócio real… » Já tivemos ocasião de observar, no quinto versículo, que todos os crentes são sacerdotes. Ali eles são chamados de sacerdócio «santo». Neste ponto, são chamados ·régios». São sacerdotes que pertencem à família real. Notemos como, em Heb. 4:14, o Sumo Sacerdote (Cristo) é visto entronizado, o que dá a ideia de um Rei Sacerdote. Assim também Melquisedeque era sacerdote, mas, igualmente, era rei de Salém (ver Heb. 7:1,2). E Cristo pertence à ordem sacerdotal de Melquisedeque (ver Heb. 7:17). A ideia que os sacerdotes cristãos também são reis acrescenta ênfase à elevada posição e ao privilégio de que desfrutam. O trecho de Êxo. 19:6 chama Israel de reino de sacerdotes. Em Apo. 1:6 e 5:10, os crentes também são chamados de reis e sacerdotes. Ali talvez seja indicado como, na eternidade futura, elevadas posições do governo poderão ser alcançadas, tanto no milênio como já no estado eterno, por parte do povo de Deus. Tal como existem muitos elevados seres angelicais governantes. Seja como for, o verdadeiro crente desde agora já «reina em vida» (ver Rom. 5:17).



 AUTOR: PB. José Egberto S. Junio, formato em teologia pelo IBAD, Profº da EBD. Casado com a Mª Lauriane, onde temos um casal de filhos (Wesley e Rafaella). Membro da igreja Ass. De Deus, Min. Belém setor 13, congregação do Boa Vista 2. 

Endereço da igreja Rua Formosa, 534 – Boa Vista - Suzano SP.

Pr. Setorial – Pr. Davi Fonseca

Pr. Local – Ev. Antônio Sousa

INSTAGRAN: @PBJUNIOOFICIAL

FACEBOOK: JOSÉ EGBERTO S. JUNIO

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           ________  BIBLIOGRAFIA ______

Bíblia de Estudo Viva

Bíblia de Estudo King James Atualizada

Comentário Bíblico NT versículo por versículo, Russell N. Champlin - Ed. Hagnos

Comentário Bíblico 1 Coríntios, Hernandes Dias Lopes - Ed. Hagnos

Tetzner. Gerson Welmer; Nerbas. Paulo Moisés,. Os Desigrejados: Um Estudo Do Fenômeno E Da Influência Da Igreja No Aumento Do Número De Cristãos Sem Vínculo Institucional. Editora Concórdia.

Fonte: 22/07/2022 https://spurgeonline.com.br/artigos/os-desigrejados/

César Francisco Raymundo. Manual do Desigrejado; Como sobreviver fora das denominações religiosas. Revista Cristã Última Chamada


https://professordaebd.com.br/9-licao-3-tri-22-a-sutileza-do-movimento-dos-desigrejados/


2 comentários:

  1. Paz do Senhor!
    Irmãos e amigos como estão?
    Espero que a aula 8 tenha sido uma bênção em sua Classe.... Porque o tema foi importantíssimo, para este tempo.

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  2. Que o Senhor Jesus vos conceda uma excelente aula 9.... Tenham todos vcs uma ótima semana.

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