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sexta-feira, 19 de julho de 2024

LIÇÃO 04 - O ENCONTRO DE RUTE E BOAZ.

Pb. Junio - Congregação Boa Vista II




                    TEXTO ÁUREO 

"O Senhor galardoe o teu feito, e seja cumprido o teu galardão do Senhor, Deus de Israel, sob cujas asas te vieste  abrigar." (Rt 2.12)


                   VERDADE PRÁTICA 

O verdadeiro e puro modelo de bondade é servir uns aos outros de coração, confiando na fidelidade e justiça de Deus.


    LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: RUTE 2.1-4; 



                INTRODUÇÃO 

 Noemi chega a Belém, depois de dez anos longe da sua herança, no princípio da colheita da cevada. Podemos imaginar sua chegada ao vilarejo, acompanhada por sua nora Rute, ambas famintas e exaustas pela viagem. Noemi teve que contemplar como estavam lindos os campos, as árvores cheias de frutos, pessoas trabalhando na colheita, pessoas essas que, diferente da família de Noemi, decidiram ficar e acreditaram na herança que Deus tinha dado. Enquanto a família de Noemi partiu, outras ficaram orando e confessando seus pecados. O arrependimento foi a semente que resultou numa colheita inevitável! Quem desiste de sua herança nunca colherá nenhum fruto; pode até plantar, mas por não conseguir esperar, outro colherá em seu lugar. Quem desiste, infelizmente, vai ter que ver os campos de quem não desistiu floridos e suas árvores cheias de frutos, porque se, de fato, a herança é de Deus, saiba que Ele vela para que se cumpra sua palavra. Não desista!

“Os rabinos entendiam que Boaz era sobrinho de Elimeleque” (Every Clayton, p. 46). Matthew Henry (p. 200), acrescenta: “[Boaz] era neto de Naassom, príncipe da tribo de Judá no deserto, filho de Salomão [Salmom], que provavelmente era um dos filhos mais moços de Raabe, prostituta de Jericó”.


                    I.   BOAZ, O REMIDOR 

1.    Um homem próspero   -   Boaz é caracterizado como um . Com frequência, essa expressão se refere a um guerreiro (“poderoso homem de força”), mas esse não parece ser o caso aqui. No caso de Boaz, a expressão carrega a nuance de “proeminente homem de bens” (cf. 1Sm 9.1) (Sasson, 1979, p. 39-40). Além de referir-se à força física, o substantivo pode referir-se à riqueza e propriedade (HALOT, p. 311; BDB, p. 298-299). As duas viúvas precisavam de alimento para sobreviver, de modo que Rute, a mais nova e mais capaz das duas, pediu permissão para ir ao campo com a esperança de que pudesse receber autorização para colher ali. O narrador refere-se a ela como “a moabita” (cf. 1.22), talvez para enfatizar sua vulnerabilidade e intensificar o drama (Hubbard, 1988b, p. 137; Nielsen, 1997, p. 54).[ 159 ] A Lei de Moisés legislava que o pobre, as viúvas e os estrangeiros residentes tinham permissão para colher nas bordas dos campos e recolher o que os segadores haviam deixado de pegar (Lv 19.9-10; 23.22; Dt 24.19).  


2.   "Goel" e "Levir"      -    Quando usada em referência a relacionamentos humanos, , “parente próximo”, cobre ampla gama de relacionamentos, incluindo aqueles que são originários da mesma tribo (2Sm 19.42 [hebr. v. 43]), membros da família estendida de alguém (Lv 25.25; Nm 27.11) e membros da família imediata (Lv 21.2-3). Em qualquer um dos casos, o contexto imediato deve determinar a natureza precisa do relacionamento. Conforme descrito na literatura legal, um , tradicionalmente “parente resgatador”, era, de modo geral, um guardião dos interesses da família estendida. Ele poderia recuperar propriedade que a família havia vendido (Lv 25.25-34), incluindo membros da família que tivessem sido vendidos como escravos para pagamento de uma dívida (Lv 25.48-49). Um guardião da família também poderia vingar um membro da família assassinado (Nm 35.19). À parte do livro de Rute, não há referência no Antigo Testamento a um que produza descendência para um membro da família falecido ao coabitar com a viúva.

 Talvez a comunidade israelita tenha expandido o papel do de modo a incluir outras responsabilidades além daquelas esboçadas na literatura legal, como produzir descendência para um parente falecido. Outra opção é que o verbo , tradicionalmente “redimir”, seja usado em Rute num sentido mais geral, em vez de no sentido legal. Bush, que propõe essa interpretação, define o termo, quando usado nesse sentido mais geral, como se segue: “Libertar um membro do grupo de proximidade de alguém (família, clã, tribo ou povo) de qualquer tipo de mal” (1996a, p. 137). De acordo com Bush, esse sentido mais geral aplica-se quando Deus é o sujeito do verbo e em Rute 4.14, em que é dito que o filho de Rute é o de Noemi, no sentido de que ele cuidaria dela quando ela fosse velha e vulnerável (v. 15). Seguindo a orientação de Bush, traduzimos a declaração de Noemi em 2.20 como “ele é um dos nossos benfeitores”.


3.    Temor e respeito   -   Boaz não chegou perguntando como estava o serviço ou cobrando resultados. Ele também não foi seletivo ou altivo, dirigindo-se somente ao chefe dos trabalhadores. Falou com todos eles: “E eis que Boaz veio de Belém e disse aos segadores […]” (2.4). Somente depois Boaz dirige uma pergunta específica ao chefe dos trabalhadores, relacionada a Rute: “De quem é esta moça?” (2.5). Essa sequência de fatos revela que Boaz considerava as pessoas mais importantes que o trabalho que prestavam. Embora seja razoável que todo o patrão espere um trabalho produtivo dos seus empregados, o correto é considerar que as pessoas têm mais valor que o trabalho que fazem. Assim, buscar falar ao coração de cada uma delas é mais importante que lhes impor obrigações em nome de uma mera troca de dinheiro versus tempo e produção.

Quando chegou ao campo, Boaz percebeu Rute e perguntou sobre a identidade dela. O capataz explicou que ela era a jovem moabita que acompanhara Noemi de volta de Moabe. Ele também informou Boaz sobre o pedido de Rute para colher atrás dos segadores. Nossa tradução (veja anteriormente) presume que o capataz dera permissão a Rute para colher e que ela estava fazendo uma breve pausa do seu trabalho no momento em que Boaz chegou. 

Aparentemente, o procedimento de colher grãos era o seguinte: (1) os segadores ( ) cortavam os talos de grão com uma foice e os deixavam caídos no chão. (2) Outro grupo de trabalhadores juntava os talos que eram então amarrados em feixes (Borowski, 1987, p. 59-61). Ao que parece, entre os empregados de Boaz, as servas ( ) faziam esse ajuntamento e atavam os feixes, pelo menos em parte. Ao permitir que Rute ficasse perto delas, Boaz estava dando a ela uma oportunidade de colher mais grãos do que o coletor típico que vinha ao campo. Boaz também informou a Rute que ordenaria aos servos ( ) que não a incomodassem. Nesse contexto, o verbo , “tocar”, provavelmente tem a conotação de “retirar” (do campo). Talvez os servos costumassem ser rudes com qualquer pessoa que tentasse se misturar aos que preparavam os feixes sem que lhes fosse dada permissão para fazer isso. Aparentemente, os servos de Boaz serviam como uma força de segurança, garantindo que apenas pessoal autorizado estivesse no campo (cf. também v. 15-16), e como equipe de apoio, garantindo que a água estivesse disponível aos segadores. 

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                II.   O CARINHO DE BOAZ PARA COM RUTE 

1.   A pureza não exclui a ternura    -   Quando observo esse encarregado tecendo comentários positivos acerca de Rute, me impressiono! Boaz tinha feito apenas uma pergunta: “Quem é ela?”. E prontamente escuta da boca de seu empregado sua história e seu esforço no trabalho. Minha opinião é que disfarçadamente o rapaz estava “dando um toque” ao seu patrão. Ah, se ele pudesse ler seu pensamento: Olha, seu Boaz, a moça é bonita, viúva e muito esforçada” Parece-me que o encarregado estava sugerindo algo mais em seu pensamento: Essa é a mulher certa para o senhor, vale a pena investir nesse relacionamento! Rute pôde contar com o testemunho de alguém muito próximo a Boaz e que desfrutava de sua inteira confiança. Como é bom encontrar pessoas assim em nosso caminho que nos recomendem. A Bíblia nos tranquiliza. A respeito disso, ela nos diz que temos alguém que tem livre acesso ao Pai e que intercede por nós, sua intercessão a nosso favor é tão intensa que Ele até geme! E o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos orar segundo a vontade de Deus, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos que não podem ser expressos em palavras. (Rm 8.26, NVT)

• Ela está trabalhando desde cedo Se ela chegou bem cedo na plantação de Boaz e antes disso já havia respigado um pouco em outras lavouras, é certo que levantou de sua cama antes do dia raiar. Essa atitude não soa muito confortável, mas normalmente quem acorda cedo tem vantagem sobre quem ainda está dormindo. Rute não permitiu que o Sol despertasse e a surpreendesse ainda na cama. Sabia que precisava trazer provisão para sua casa. Ela tinha consciência de que precisava arregaçar as mangas! 

No final do dia, Rute conseguiu recolher 25kg de cevada. Fazendo uma conta rápida, 25kg por cinco dias resulta em 125kg por semana e 500kg por mês! Se a colheita demorasse uns dois meses, ela poderia ter recolhido aproximadamente 1.000kg de cevada. Boaz é para nós um grande exemplo de que é possível “ser próspero e generoso”.

As pequenas sementes da vida e as pequenas conquistas nunca se tratam de sorte, mas da generosidade do nosso Senhor! Sim, a Bíblia diz que Ele dá ordens aos seus anjos a nosso respeito (Sl 91.11). Usou de palavras encorajadoras, elogiando a sua atitude bondosa ao decidir abandonar seu povo para cuidar da sua sogra. 


2.    Deus estava agindo   -   À luz da bondade de Boaz, a resposta de Rute não é nenhuma surpresa. Ela se inclina diante dele e pergunta por que ele está sendo tão bondoso para com ela (v. 10). Afinal, sendo estrangeira, ela não esperava ser tratada dessa maneira. “Encontrar favor aos olhos de” (cf. ) significa “ser beneficiária ou objeto da bondade de alguém”. A bondade demonstrada é oferecida gratuitamente e sem obrigação (Rt 2.2; cf. Gn 19.19; 47.25), mas pode ser induzida pelo caráter ou pelas ações do beneficiado (Gn 6.8 [cf. v. 9]; 39.4 [cf. v. 3]; 1Sm 16.22 [cf. v. 21]). Isso era certamente verdadeiro no caso de Rute, como Boaz explicou. Ele recebera um relatório completo da dedicação de Rute a Noemi. Ela deixara a segurança de sua terra natal e assumira um risco significativo ao mudar-se para uma nova terra. Quando cruzou a fronteira e entrou em Israel, ela colocou-se sob o cuidado protetor do Deus de Israel (cf. Rt 1.17), a quem Boaz comparou a uma ave que cuida de seus filhotes (cf. Sl 91.4). Boaz pronunciou uma bênção sobre ela, pedindo ao Senhor que lhe retribuísse por sua bondade para com Noemi.


3.   Sensível e espiritual   -    Os atos de Boaz não eram como uma ficção ou fruto de uma manipulação psicológica, como não são quaisquer dos atos humanos, dado o livre-arbítrio assegurado por Deus. Como enfatiza Silas Daniel (2017, p. 402), as escolhas humanas são reais, genuínas. Boaz estava agindo dentro de um cenário real. O Deus da providência estava abençoando Rute em recompensa pelo seu devotado amor a Noemi e por toda a reputação que ela havia construído com o seu cuidadoso comportamento. O próprio Boaz sabia dessa verdade, ao proferir a declaração que se tornou um dos versículos-chave do livro (cf. Rt 2.11). Boaz tinha uma profunda compreensão espiritual. Ele reconhecia que o Deus dos hebreus não estava limitado a fronteiras territoriais ou barreiras étnicas. Como servo de Yahweh, estava sendo usado para abençoar uma piedosa moabita, uma “mulher convertida” (Gilberto, 2021, p. 397).

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                    III.   A COLHEITA DE RUTE E A SUA SOBREVIVÊNCIA 

1.   A lei da semeadura    -   A colocação do verbo , “abandonar”, com o verbo , “retornar”, foi um poderoso movimento retórico da parte de Rute. Sua inclusão reflete a perspectiva de Rute. No que se referia a ela, retornar para Moabe significava abandonar Noemi e deixá-la ainda mais vulnerável do que já estava. Rute declarou de maneira inequívoca que pretendia ficar com Noemi. Ela anunciou que seguiria Noemi e viveria com ela.

Rute coroa sua promessa com uma autoimprecação (v. 17) na qual ela usou o nome de Yahweh, para mostrar que ela estava firme em sua disposição de se identificar com o Deus de Noemi (Prinsloo, 1977-1978, p. 115; Bush, 1996a, p. 87, e Ziegler, 2007, p. 78-80). O juramento de Rute transformou sua fala exortativo-preditiva numa declaração performativa. Isso silenciou Noemi, pois ela entendia as implicações de uma promessa tão radical.[ 97 ] No capítulo 1, há uma ação recíproca interessante entre fala e ação. A bênção de Noemi (v. 8-9) aparentemente libertou Rute e a assegurou da bênção de Deus, mas a maldição autoimposta de Rute (v. 17) contrabalançou e sobrepujou a bênção. Ironicamente, o juramento de Rute validou a bênção de Noemi, pois forneceu a prova de seu amor leal e o mérito do favor divino.     A estrutura do juramento de Rute requer um exame mais apurado para que se aprecie seu significado. A primeira parte do juramento consiste em duas orações, cada uma delas introduzida por , “assim”, e descreve a punição pela quebra da promessa. A segunda parte do juramento, introduzida por , “de fato, certamente”, apresenta a condição do juramento.


2.    Os "acasos" de Deus    -   Ela reconhece que Boaz agiu dentro do contexto da família mais ampla e forneceu alimento “além do comum” (p. 48). Ela observa: “Não há dúvida de que sua ação até esse ponto é limitada, mas ele já havia feito mais do que era esperado dele” (p. 48). Ela então ressalta que Boaz é o instrumento por meio do qual Deus estendeu sua bondade a Noemi e a Rute, e conclui: “A lealdade divina toma forma na comunidade e nas vidas individuais por meio das ações humanas” (p. 48). Contestamos o ponto de vista segundo o qual a sintaxe do versículo 20 é ambígua e defendemos a visão de que Boaz é o único referente gramatical. No nível sintático do texto, Noemi se refere especificamente à lealdade de Boaz, não à de Deus. Contudo, o argumento de Sakenfeld sobre a lealdade de Boaz ser uma expressão da lealdade de Deus é válido quando as ações de Boaz são colocadas no contexto literário mais amplo. A bondade de Boaz para com Rute pode ser vista como um trabalho adicional e como cumprimento inicial das orações feitas anteriormente tanto por Noemi (1.8) quanto pelo próprio Boaz (2.12). Por meio da bondade de Boaz a Rute, a resposta positiva de Deus àquelas orações pedindo por bênçãos estava começando a se materializar.


3.    O resultado da colheita   -   Rute de fato permaneceu perto das servas de Boaz. Quando terminou a colheita de cevada — que ocorria do final de março até o final de abril —, Rute ainda continuou trabalhando durante a colheita de trigo, que acontecia do final de abril até o final de maio (Borowski, 1987, p. 88, 91). O significado da declaração final no versículo 23 é incerto. O texto hebraico diz literalmente “e ela morou com sua sogra”. Isso pode significar que ela morou com sua sogra enquanto trabalhou durante a colheita. Em outras palavras, ela trabalhava durante o dia e, então, voltava para a casa de Noemi todas as noites, tal como o capítulo 2 descreve no seu primeiro dia de colheita. Outros entendem que a declaração significa que, assim que a colheita terminou, ela permaneceu em casa todos os dias com Noemi e não saiu mais à procura de trabalho (veja, p. ex., Bush, 1996a, p. 140). Seja como for, está claro que Rute permaneceu dedicada a Noemi.





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AUTOR: PB. José Egberto S. Junio, formato em teologia pelo IBAD, Profº da EBD. Casado com a Mª Lauriane, onde temos um casal de filhos (Wesley e Rafaella). Membro da igreja Ass. De Deus, Min. Belém setor 13, congregação do Boa Vista 2. 

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         BIBLIOGRAFIA


Bíblia Almeida Século 21
Bíblia de estudo das Profecias
Livro de Apoio, O Deus que governa o mundo e cuida da família - Pr. Silas Queiroz, Editora CPAD.


Livro A Vida de Rute, Suzane S. J. Moreira - Ed. CPAD

Livro A História de Rute, Robert B. Chisholm Jr - Ed. Cultura Cristã



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sexta-feira, 12 de julho de 2024

LIÇÃO 03 - RUTE E NOEMI: ENTRELAÇADAS PELO AMOR.

Pb. Junio - Congregação Boa Vista II

 



                        TEXTO ÁUREO

"Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti; porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde que que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus." (Rt 1.16)


                       VERDADE PRÁTICA

Amar uns aos outros sem nada exigir em troca evidencia que Deus está em nós e nos une em relacionamentos fortes e duradouros.


LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: RUTE 1.6-8; 14-19



                    INTRODUÇÃO

O afetuoso e inspirador relacionamento entre Noemi e Rute resultou de uma atitude no mínimo paradoxal do belemita Elimeleque. No crítico período dos juízes, um efrateu deixa Belém por causa da fome que assolava Israel e vai com a sua família peregrinar nos campos de Moabe.1 A ação de Elimeleque — nome que, no hebraico, significa “Meu Deus é Rei” — não é objeto de aprovação ou reprovação expressa no texto sagrado. Contudo, é mesmo um paradoxo que um judeu piedoso precisasse deixar Belém (heb, Bethlehem, “casa do pão”) em busca de sobrevivência para ele e a família nos campos dos moabitas, um povo pagão e historicamente inimigo de Israel. Decerto, não havia um clima de beligerância entre os povos naquele período específico; tanto é verdade que os belemitas encontraram franco acesso a Moabe, e famílias de efrateus e moabitas entrelaçaram-se por meio de vínculos conjugais. De qualquer sorte, o ato revela a gravidade da crise em solo israelita, decorrente da apostasia de Israel. Quanto a Elimeleque, não há como deixar de considerar que lhe faltou fé perseverante para permanecer em Belém, a despeito da crise que vivenciava. Para os que cogitam ter como certa a atitude de Elimeleque por ele estar buscando garantir a sobrevivência da sua família, é preciso considerar que justificar nossas decisões vacilantes pelas circunstâncias adversas que enfrentamos é uma flagrante negação do valor da confiança em Deus e na sua providência. A verdadeira fé é fortalecida e provada nos momentos mais críticos da vida (1 Pe 1.7).



                    I.  A PROPOSTA DE NOEMI

1.   Uma crise em família    -   Não sabemos quanto tempo Elimeleque viveu em Moabe. A narrativa bíblica indica que a família permaneceu junta por algum período (Rt 1.2). Algum tempo depois, morreu Elimeleque, deixando a sua esposa, Noemi, com os seus dois filhos, Malom e Quiliom, que, à época, já tinham idade para casarem-se. Apesar de não haver idade mínima para o casamento no mundo antigo (Yamauchi, 2023, p. 397), os homens, pelo menos, não se casavam muito cedo. Isaque, por exemplo, casou-se aos 40 anos (Gn 25.20). Malom, o filho mais velho, casou-se com Rute. Quiliom casou-se com Orfa. O texto sagrado informa que a família belemita ficou em Moabe “quase dez anos” (1.4), o que corresponde, provavelmente, a todo o tempo de permanência desde a chegada àquelas terras. Ao fim desse período, morreram Malom e Quiliom. Estudiosos do Antigo Testamento consideram que a morte prematura dos filhos de Noemi deveu-se às condições de saúde de ambos, que não seria boa desde a infância. Conforme Leon Morris, (1986, p. 233), “Malom possivelmente é derivado da raiz hlh ‘estar fraco’ ou ‘doente’”, assim, “neste caso, teria sido uma criança doentia”, completa Morris. O mesmo autor afirma que “Quiliom também é nome que tem conotações desagradáveis, visto que significa algo como ‘definhando’, ‘falhando’ ou mesmo ‘destruição’”.


2.   Tirando  força da fraqueza    -   Nenhuma família está livre de viver tragédias, nem mesmo as mais piedosas. O que dizer da família de Jó, que tinha como sacerdote um homem “sincero, reto e temente a Deus; e [que] desviava-se do mal” (Jó 1.1)? A família, como diz Every Claiton (2020, p. 13), é a célula em que age o Deus da história. Noemi não tinha consciência disso enquanto enfrentava o furacão de problemas que lhe roubou a alegria, assim como cada um de nós não consegue, em tempos de crise, compreender claramente o que o Senhor está querendo de nós por meio dos processos nos quais faz passar. Como observa Cabral (2023, p. 86), Noemi não podia imaginar o plano presciente do Senhor em todas aquelas circunstâncias. A questão, contudo, não é tentar explicar as tragédias, como se tivéssemos domínio racional sobre elas, mas comportar-nos de um modo responsável, perseverando no cumprimento de nossos deveres, mesmo que não vejamos luz alguma no fim do túnel. Acima de tudo, precisamos continuar confiando em Deus. Mesmo que seja difícil, se tivermos desenvolvido um relacionamento com o Todo-Poderoso, conheceremos o seu caráter santo, justo e bom e confiaremos que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28).    

 Noemi estava desolada, mas não ficou prostrada. Não podemos deixar de agir e cumprir nossas obrigações diárias quando as tristezas querem nos consumir.

Já na NAA, aparece o adjetivo “fraco” nesse mesmo versículo: “Se você se mostra fraco no dia da angústia, é porque a sua força é pequena”. Trata-se de “raphah”, no hebraico, com o sentido de “afundar”, “relaxar”, “deixar cair”; ou seja, tem a ver com a atitude pessoal tomada durante a crise, e não com o estado interior. No aspecto subjetivo, angústia; mas, na prática, ações concretas, iniciativas. Quando soube que o Senhor havia abençoado o seu povo, “se levantou ela”, ou seja, Noemi, com as suas noras para voltar a Belém (Rt 1.6,7). A atitude de Noemi é própria de quem tem espírito de liderança.

 As desistências fazem-nos perder bênçãos extraordinárias. Confiar em Deus e seguir em frente é sempre o caminho certo. Nas atitudes práticas, de nossa responsabilidade, está a parte da terapia que pode ajudar-nos a superar os dramas da vida. Desistir de objetivos comuns da vida tem sido altamente prejudicial para a saúde emocional e espiritual de muitas pessoas. Noemi levantou-se e voltou para Belém.


3.   Sem manipulação emocional    -    Outra extraordinária lição que nos transmite Noemi é a importância de não usar nossos quadros tristes da vida para manipular e explorar as pessoas que nos cercam. Além de conservar-se ativa, Noemi soube equilibrar as suas emoções com a assunção das suas responsabilidades, não se vitimizando diante das suas noras, tentando constrangê-las a permanecer junto dela. É razoável entender que uma mulher idosa precisa mesmo de alguém para fazer-lhe companhia e oferecer cuidados — como fez Rute a Noemi —, só que esse tipo de relacionamento não pode ser construído com base em manipulações.

Ter dependência patológica de outra pessoa é sintoma de profunda carência afetiva. Embora dependamos uns dos outros, não é possível sustentar uma boa convivência se não houver interdependência, manifestada em reciprocidade, mutualidade, compartilhamento, cooperação, equilíbrio e confiança. Pessoas que sofrem de carência afetiva terminam tornando-se um grande peso em qualquer relacionamento. Quando isso se agrava, costuma atingir níveis perigosos, que se exteriorizam das formas mais diversas. O ciúme desmedido é um desses terríveis quadros produtores de tragédias. O excessivamente carente usa a sua doentia condição para manipular os outros. Não raras vezes, esses quadros são sustentados por problemas espirituais não resolvidos (ou mal resolvidos); falta de maturidade espiritual; ausência de uma vida cristã autêntica, na correta compreensão do que é ser discípulo de Cristo (Lc 9.23). 

Desse tipo de criação, vêm adultos emocionalmente débeis, com baixo nível de maturidade e independência emocional — e isso também se reflete no aspecto espiritual. Pessoas emocional e espiritualmente sadias não são manipuladoras; buscam — o quanto podem — resolver os seus próprios problemas, entendendo os limites de uma dependência mútua saudável, numa vida de cooperação e reciprocidade.

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                    II.   A CONVICÇÃO AMOROSA DE RUTE

1.   Uma amizade provada e aprovada    -   Por que Rute persiste e Orfa desiste? O sentimento e a força moral de Orfa não eram tão intensos quanto os de Rute. Isso ficou demonstrado na sua decisão após a insistência de Noemi para que ficassem em Moabe.   As palavras de Noemi certamente levaram Orfa a refletir um pouco mais. Embora fosse apegada à sogra, realmente não havia indicação alguma de que pudesse ter um futuro melhor ao lado de uma idosa pobre e sem filhos. Isso deve ter pesado na decisão de Orfa, além do fato de não haver no seu coração uma convicção profunda de que devesse escolher o caminho da dificuldade, rejeitando o estilo de vida dos moabitas, com as suas licenciosidades e idolatrias.

A fé de Orfa era emotiva, porém fraca. Infelizmente, muito se vê disso no cristianismo evangélico atual. Pessoas que se emocionam e choram, mas que são desprovidas de convicção na hora de tomar atitudes ao lado da verdade do evangelho. Como diz Matthew Henry: “Fortes sentimentos, sem uma opinião bem definida, normalmente produzem decisões fracas” (2022, p. 196). O mesmo autor observa: “Aqueles que assumem uma profissão de fé somente por complacência dos parentes, ou para agradar seus amigos, ou por causa da companhia, serão convertidos por pouco tempo” (ibid., p. 197).

Abraão, que recebeu o título de amigo de Deus (Tg 2.23), teve o seu amor ao Senhor provado de forma absolutamente intensa, com o pedido de entrega do próprio filho. Deus estava extraindo de Abraão algo mais intenso e puro, demonstrado através da extraordinária oferta de Isaque. É isso que podemos entender da expressão do Anjo do Senhor: “[…] agora sei que temes a Deus e não me negaste o teu filho, o teu único” (Gn 22.12). Assim como Noemi, Deus quer que tenhamos um relacionamento sincero e profundo com Ele, pautados numa entrega total. As provas servem para Ele extrair o que realmente há em nosso coração. Se respondemos afirmativamente, com obediência e fé, o Senhor agracia-nos com a sua terna, profunda e providencial amizade: “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15.14). Isso resulta em muitas bênçãos. Dentre elas, um conhecimento maior de seus mistérios (“[…] tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai nos tenho feito conhecer”) e acesso para recebermos o que lhe pedimos (“[…] a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda”) (Jo 15.15,16). 


2.  Amizade na adversidade    -   As verdadeiras amizades não cedem às conveniências ou pressões do momento. Amigo que muda de lado facilmente ao sabor dos seus interesses não é amigo verdadeiro.     Salomão escreveu: “O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade” (Pv 17.17 – NVI). No período da monarquia judaica, temos o belo exemplo da amizade entre Davi e Jônatas (1 Sm 18.1) a despeito da fúria do rei Saul. A disposição de Jônatas em ser amigo de Davi mostrou-se mais forte que as injustas investidas do seu pai (1 Sm 20.1-4).    

O sociólogo e filósofo polonês Zigmunt Bauman (1925–2017), que muito escreveu sobre modernidade líquida, costumava apontar para as fragilidades das amizades atuais, que são tão múltiplas e mostram-se tão “quentes” no ambiente virtual, mas que são tão poucas e incrivelmente frias na vida real. O tipo de companheirismo e comprometimento de Rute às vezes não se é visto nem mesmo no ministério da igreja. O cristão tem o imperativo de amar uns aos outros (Jo 13.34), combustível indispensável para amizades verdadeiras e duradouras.


3.     Um amor prático    -    O amor de Rute não era apenas verbal ou sentimental; era prático. Chegando a Belém, Rute não ficou parada, envolta em expectativas fantasiosas. Ela dedicou-se ao trabalho diário nos campos de Belém (Rt 2.2).      

Está crescendo em nossos dias a chamada Teologia do Coaching, que, embora reúna conselhos práticos — muitos deles extraídos das Escrituras Sagradas —, tem sido crida por muitos como um meio fácil de alcançar sucesso na vida. Isso produz uma espiritualidade superficial, que desconsidera a necessidade de percorrer caminhos difíceis, porém reais, e a prática fiel e perseverante dos princípios da Palavra de Deus sem elevadas pretensões, como fez Rute na sua dura vida em Belém. A justiça de Deus não combina com uma espiritualidade que imagina a possibilidade de cortar caminhos, valendo-se de uma espécie de “poções mágicas”. Conquanto não devamos ser radicais, também não devemos ser ingênuos, como meninos na fé (cf. Ef 4.14).

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                    III.    A CONVICÇÃO DA MULHER:  "O TEU DEUS É O MEU DEUS"

1.   Uma fé fervorosa    -   O que é ser fervoroso na Bíblia?

A palavra fervor quer dizer: desejo muito intenso; entusiasmo; paixão. É por isso que, não podemos permitir que a chama do Espírito se apague, que percamos esse ponto de ebulição e fervura, pois o Senhor deseja que sejamos fervorosos e intensos, entusiasmados em nosso relacionamento com Ele.

Os ensinamentos do apóstolo Tiago em sua carta complementam perfeitamente a vida de Rute. Em Tiago 2:14-18, ele afirma: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem, porém, lhes dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras.”

Rute personifica esses ensinamentos de Tiago. Sua fé não era meramente teórica ou verbal; ela se manifestava em ações concretas. Cada espiga que Rute recolhia no campo representava não apenas seu trabalho árduo, mas também sua fé viva e ativa. Ao cuidar de Noemi, Rute demonstrou que sua fé estava acompanhada de obras, uma fé que se mostrava em seus atos de amor, dedicação e sacrifício.

Tiago nos ensina que a fé sem obras é morta, e Rute exemplifica essa verdade de maneira clara .


2.    Uma fé que inspira   -   0 verbo “inspirar” provém do termo latino inspirare, “soprar”. As Escrituras são o resultado do sopro divino. Foi através do sopro divino que Adão veio à existência (Gênesis 2:7) e o Universo foi criado (Salmo 33:6).

Noemi, como uma figura mais velha e experiente, desempenhou um papel importante na orientação e no exemplo de Rute. Sua vida refletia os princípios de Tito 2:3-5, onde as mulheres mais velhas são chamadas a serem sérias no viver, santas, não caluniadoras, e mestras no bem. Este ensinamento destaca a importância de transmitir sabedoria e virtude às gerações mais jovens na fé.

A história de Noemi e Rute ilustra como o exemplo e a orientação de uma mulher mais velha podem moldar profundamente a fé e o caráter de uma jovem.

Noemi não apenas falava sobre fé e virtude; ela vivia esses princípios diariamente, sendo um modelo de conduta cristã. Sua decisão de retornar a Belém após a morte de seu marido e filhos não foi apenas um ato de coragem pessoal, mas um testemunho vivo de sua confiança em Deus.


3.   Sensibilidade sob liderança    -   Não há dúvida de que as mulheres também são dotadas de talentos e dons (naturais e espirituais), que podem ser (e são) muito úteis no Reino de Deus. Contudo, é inafastável que também se reconheça que Deus deu ao homem a missão de liderar, o que começa no seio da família, em decorrência do sistema patriarcal estabelecido pelo Criador. Como escreve o pastor Elienai Cabral (2023, p. 94, 96): Antes de tudo, o sistema patriarcal foi criado por Deus […]. O líder da família é sempre o pai, não a mãe. A mãe corrobora com o pai para que a disciplina tenha sempre um caráter de responsabilidade mútua da parte do casal. Os pais devem ensinar os seus filhos quanto à bondade, à gentileza, às prioridades de suas vidas, o falar correto e o controle das emoções. Tudo isso é primordialmente trabalho do chefe da família, o pai.

O mais sábio, portanto, é que as mulheres cristãs não percam o foco, entregando-se a discussões e disputas carnais, que não produzem edificação, mas concentrem a sua fé e devoção em servir a Deus no glorioso serviço cristão, como valorosas cooperadoras.





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AUTOR: PB. José Egberto S. Junio, formato em teologia pelo IBAD, Profº da EBD. Casado com a Mª Lauriane, onde temos um casal de filhos (Wesley e Rafaella). Membro da igreja Ass. De Deus, Min. Belém setor 13, congregação do Boa Vista 2. 

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         BIBLIOGRAFIA


Bíblia Almeida Século 21
Bíblia de estudo das Profecias
Livro de Apoio, O Deus que governa o mundo e cuida da família - Pr. Silas Queiroz, Editora CPAD.


https://conhecerapalavra.com.br/rute-e-noemi-entrelacadas-pelo-amor/

https://biblia.com.br/perguntas-biblicas/a-biblia-e-inspirada-o-que-isso-significa/#:~:text=A%20frase%20%E2%80%9Ctoda%20a%20Escritura%20divinamente%20inspirada%E2%80%9D%20significa%20que%20ela,(Salmo%2033%3A6).



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sexta-feira, 5 de julho de 2024

LIÇÃO 02 - O LIVRO DE RUTE.

Pb. Junio - Congregação Boa Vista II

 



                TEXTO ÁUREO

"E sucedeu que, nos dias em que os Juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos." (Rt 1.1)


                VERDADE PRÁTICA

Servir a Deus nos isenta de crises. Em qualquer circunstância, o segredo é permanecer fiel, confiando na providência divina.


LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: RUTE 1. 1-5



                        INTRODUÇÃO


O livro de Rute está entre Juízes e 1 Samuel. Levando em consideração que o crítico quadro espiritual de Israel retratado em Juízes prolonga-se até os primeiros capítulos de 1 Samuel, o livro pode ser considerado um verdadeiro lírio no meio do deserto, ou, “semelhante a uma linda flor num jardim abandonado, ou a uma luz clara que aparece na escuridão da noite”, como diz S. E. MacNair (1983, 95).   Não há dúvida de que o agir providencial de Deus é o que mais marca a narrativa belemita. A providência divina é percebida ao longo de todo o livro. O Jeová Jireh, proclamado por Abraão em Gênesis 22.14, é o Deus que tudo provê para Noemi e Rute, inclusive um remidor, Boaz, e um herdeiro, Obede, prolongador da semente de Elimeleque, da linhagem de Davi (Rt 4.13-22). O livro faz parte da chamada “trilogia de Belém”, as três narrativas cujo cenário descreve o período dos juízes em relação à cidade que também é conhecida como Efrata (Merril, 2001, p. 184). São elas: Mica e o levita (Jz 17–18), o levita e a concubina (Jz 19–21) e, por fim, a história de Rute, num corpus literário distinto e específico.



                    I.  A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO

1.  Na Bíblia Hebraica    -   Ao longo dos tempos, houve muita variação na composição e ordem dos livros do Antigo Testamento até chegar à organização que temos hoje, com Rute sendo um livro distinto, vindo imediatamente após Juízes.

 Conforme explica Norman Geisler e Willian Nix (2006, p. 75): Os livros das Escrituras judaicas foram reagrupados várias vezes desde quando foram redigidos. Alguns deles, de modo especial os que fazem parte dos escritos, foram redigidos e aceitos pela comunidade judaica séculos antes das datas que os teóricos da crítica lhes atribuem.

Acerca dessa variação de posição, R. Clyde Ridall (2020, p. 160) sintetiza: Na Bíblia hebraica moderna este livro está colocado no Megilloth e é lido publicamente na Festa das Semanas (no tempo da colheita). Contudo, até por volta do ano 450 de nossa era, o livro de Rute era considerado uma continuação de Juízes. Em sua lista de livros inspirados, Josefo aparentemente considera Juízes e Rute como um único livro. Ao que tudo indica, Jerônimo deixa implícito que os dois estavam juntos no cânon hebraico. Rute aparece na LXX e na Vulgata logo depois de Juízes (como em nossas versões atuais). Não se sabe por que nem como o livro saiu de sua posição original junto aos “Profetas Anteriores” e foi parar no Hagiógrafo (ou Escritos), a terceira divisão do cânon hebraico.


3.  Autoria e data   -   Além disso, as características gerais da obra indicam uma atmosfera própria do início do período da monarquia de Israel, reforçando ainda mais a autoria do profeta, sacerdote e último juiz de Israel.  Um dos principais argumentos para essa conclusão, como destaca Leon Morris (1986, p. 219, 220), diz respeito ao estilo e à linguagem presentes na obra, pertencentes ao hebraico clássico, o que indica uma época primitiva, ou seja, dos dias de Samuel, logo após os fatos narrados no livro, bem distante do estilo visto em livros escritos no período pós-exílico (segunda metade do século V a.C.), como os livros das Crônicas dos reis de Israel, escritos provavelmente por Esdras. De fato, verifica-se que a narrativa de Rute encerra-se com a referência a Davi (“e Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi” – Rt 4.22). Seria de todo improvável que um livro escrito após a monarquia (e no período pós-exílico!) não citasse qualquer outro rei de Israel, principalmente Salomão.

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                    II.   O CONTEXTO HISTÓRICO

1.   No tempo dos juízes    -    Os dias dos juízes foram marcados por uma grande anarquia e uma profunda apostasia e infidelidade do povo hebreu (Jz 1.7- 19).   A Nova Tradução da Linguagem de Hoje traduz como: “cada um fazia o que bem queria”. Isso demonstra o quadro anárquico que estava em Israel, bem diferente do propósito e da ordem de Deus estabelecida por intermédio de Moisés, que previa uma unidade nacional sob a obediência da Lei (Dt 31.12,13). A sensação de estabilidade pela conquista da terra e o seu estabelecimento nas cidades (Js 2.6), somado à convivência com os povos cananeus que não foram desalojados, produziram uma drástica mudança no coração da nação israelita ao longo das gerações. Josué advertira ao povo que não se misturasse às nações que haviam ficado na terra e que sequer fizessem menção aos nomes dos seus deuses (Js 23.7). O povo deveria manter um extremo zelo de Deus e da sua Palavra, obedecendo a Ele em tudo e buscando viver isento de todos os costumes dos cananeus que permaneceram na terra, mas Israel fez o contrário de tudo isso.


2.  Secularismo, hedonismo e Idolatria   -   A nação de Israel tornou-se secularista, hedonista e idólatra, entregando-se aos prazeres carnais e aos ídolos dos cananeus, como analisa Matthew Henry (2022, p. 97, 98):

 Toda essa geração em alguns anos se esfriou, suas boas instruções e exemplos morreram e foram enterrados com eles e surgiu outra geração de israelitas que tinha tão pouca compreensão da religião e se preocupava tão pouco com ela que, apesar de todos os benefícios da sua educação, podemos verdadeiramente dizer que não conheciam o Senhor da forma correta, ou seja, não o conheciam como havia se revelado; completamente devotados ao mundo ou tão indulgentes com a carne no que se referia ao ócio e a luxúria, que não davam a mínima importância para o verdadeiro Deus e à sua santa religião. Dessa forma, foram facilmente atraídos aos falsos deuses e às suas superstições abomináveis.

 […]

 Quando abandonaram o único e verdadeiro Deus não se tornaram ateístas, nem eram tão insensatos a ponto de dizer: Não há Deus. Mas eles seguiram outros deuses. Retinham tanto da natureza pura a ponto de dizerem que existia Deus, mas também permanecia tanto da natureza corrupta que multiplicavam os deuses. Eles estavam dispostos a aceitar qualquer deus, e seguir a moda, não a regra, na adoração religiosa.

Lições para todos os Tempos Algumas lições espirituais fundamentais podem ser extraídas do trágico exemplo de Israel no período pós-conquista. A primeira é sobre o quanto é importante uma liderança madura, experiente e temente a Deus, que tenha força moral e espiritual para ser exemplo com a própria casa e conduzir o povo em serviço, obediência e adoração. Josué foi esse tipo de líder. Quando o povo fica sem condutores idôneos, os prejuízos são incalculáveis em toda e qualquer época.   A segunda é sobre como é imprescindível o ensino das Escrituras como base norteadora de todas as nossas condutas individuais e coletivas. Como Moisés havia ordenado, o povo deveria ser reunido — homens, mulheres, meninos e os estrangeiros — para ouvir, aprender e temer a Deus, guardando todas as suas palavras.   A terceira lição que podemos extrair do infeliz exemplo de Israel nos anos posteriores aos dias de Josué é o cuidado de que precisamos ter para não sermos seduzidos pelo estilo de vida mundano da sociedade que nos cerca. É fato que o modo de vida fácil e os costumes aparentemente agradáveis dos grupos sociais com os quais convivemos têm um forte poder atrativo; afinal de contas, fazer a vontade de Deus com o zelo que nos recomendam as Escrituras pode ser visto como um fardo muito pesado, principalmente quando se refere a aspectos culturais não recomendados pelas igrejas conservadoras. O fato é que não é possível flertar com o mundo e os seus prazeres e, ainda assim, conservar o coração ardente pela presença de Deus. Os entretenimentos mundanos não são neutros como se imagina.     


3.   Opressão, clamor e livramento   -   O Deus de Israel cumpriu integralmente a sua Palavra enquanto a nação foi fiel a Ele. Como escreveu Josué: “Palavra alguma falhou de todas as boas palavras que o SENHOR falara à casa de Israel; tudo se cumpriu” (Js 21.45). Isso mostra o inestimável valor da confiança em Deus, a despeito de qualquer circunstância. Enquanto permaneceu fiel a Deus, o povo de Israel desfrutou de proteção sobrenatural: “[…] nenhum de todos os seus inimigos ficou em pé diante deles; todos os seus inimigos o SENHOR deu na sua mão” (Js 21.44). Tudo mudou quando o povo pecou.

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                    III.    PROPÓSITO E MENSAGEM

1.   O cetro de Judá    -   Não há dúvida de que a realeza do Antigo Testamento atingiu seu clímax com a ascensão da monarquia davídica. O que fica claro também é que a promessa de realeza não começou com Davi; isso remonta a Abraão. Lembre-se de que o Senhor prometeu a Abraão que “reis procederão de ti” (Gn 17.6), uma promessa que foi reiterada com Jacó (35.11). Essa promessa de realeza assume uma forma proeminente nas palavras finais de Jacó a seus filhos em Gênesis 49, quando pronuncia a bênção do domínio sobre Judá. Vamos analisar essa bênção de Jacó e como ela antecipou a ascensão da realeza para o povo de Deus.

No versículo 8, Judá se torna objeto de louvor e é munido de domínio mundial. O versículo 9 continua com o retrato do governo de Judá, retratando-o vividamente como um leão jovem e que está crescendo. Ele persegue sua presa, volta para sua toca com a mesma e repousa poderosamente, onde ninguém ousa desafiá-lo.

Isso nos leva às imagens intrigantes do versículo 10. Jacó associa dois símbolos de realeza a Judá: um “cetro” (Nm 24.17; Is 11.4; Sl 45.6; Zc 10.11) e um “bastão” (Nm 21.18; Sl 60.7). A frase “entre seus pés” é um eufemismo para o órgão reprodutor masculino (Jz 3.24; 1Sm 24.3; Is 7.20) e, portanto, representa a descendência de Judá. Em outras palavras, um judeu sempre será o comandante nacional do povo de Deus. Isso permanecerá verdadeiro “até que venha Siló” (Gn 49.10).


2.   Amor e redenção    -   Rute é uma peça indispensável na metanarrativa bíblica que revela o amor divino pela humanidade, manifestado através do plano de redenção, que culminou com o envio do Filho de Deus ao mundo para, uma vez encarnado, oferecesse a si mesmo como sacrifício perfeito no lugar de toda a humanidade (Jo 1.1-14; 3.16; Gl 4.4,5). Esta é a mensagem principal do livro: o amor de Deus e o seu plano de redenção da humanidade sem acepção de pessoas (At 10.34-44).


3.   Fidelidade e altruísmo    -   Uma jovem moabita deixa a terra dos pais para acompanhar a sua sogra, já idosa, que não tinha nenhuma perspectiva material ou humana de trazer-lhe um futuro promissor (Rt 1.16,17). Pobre e sem filhos, Noemi não tinha realmente o que oferecer a Rute. Já em Belém, o comportamento de Rute foi voltado integralmente para a proteção e o cuidado da sogra — e de forma voluntária (Rt 2.2,17,18). Rute não esboçou uma atitude sequer que lhe pudesse favorecer em primeiro lugar, como a busca de um casamento com qualquer homem belemita (Rt 3.10). Na verdade, o interesse por casar-se não surgiu da decisão dela, mas da específica orientação da sogra (Rt 3.1-6). Esse comportamento de Noemi e Rute dá uma eloquente mensagem: o valor do altruísmo num mundo dominado pelo egoísmo. Enquanto nos dias dos juízes todos viviam segundo os seus próprios padrões e interesses (Jz 21.25), Noemi e Rute exalam abnegação, destoando dessa máxima individualista. Sogra e nora não pensavam em si mesmas. Elas praticaram o amor que não busca os seus próprios interesses (1 Co 13.5).




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AUTOR: PB. José Egberto S. Junio, formato em teologia pelo IBAD, Profº da EBD. Casado com a Mª Lauriane, onde temos um casal de filhos (Wesley e Rafaella). Membro da igreja Ass. De Deus, Min. Belém setor 13, congregação do Boa Vista 2. 

Endereço da igreja Rua Formosa, 534 – Boa Vista - Suzano SP.

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         BIBLIOGRAFIA


Bíblia Almeida Século 21
Bíblia de estudo das Profecias
Livro de Apoio, O Deus que governa o mundo e cuida da família - Pr. Silas Queiroz, Editora CPAD.

https://jesuseabiblia.com/biblia-de-estudo-online/rute-estudo/

https://cucadecrente.com.br/estudo-livro-de-rute/

https://voltemosaoevangelho.com/blog/2021/09/o-cetro-de-juda/



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