Pb. Junio - Congregação Boa Vista II |
TEXTO ÁUREO
"Disse, porém, Rute: Não me instes para que te deixe e me afaste de ti; porque, aonde quer que tu fores, irei eu e, onde que que pousares à noite, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus." (Rt 1.16)
VERDADE PRÁTICA
Amar uns aos outros sem nada exigir em troca evidencia que Deus está em nós e nos une em relacionamentos fortes e duradouros.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: RUTE 1.6-8; 14-19
INTRODUÇÃO
O afetuoso e inspirador relacionamento entre Noemi e Rute resultou de uma atitude no mínimo paradoxal do belemita Elimeleque. No crítico período dos juízes, um efrateu deixa Belém por causa da fome que assolava Israel e vai com a sua família peregrinar nos campos de Moabe.1 A ação de Elimeleque — nome que, no hebraico, significa “Meu Deus é Rei” — não é objeto de aprovação ou reprovação expressa no texto sagrado. Contudo, é mesmo um paradoxo que um judeu piedoso precisasse deixar Belém (heb, Bethlehem, “casa do pão”) em busca de sobrevivência para ele e a família nos campos dos moabitas, um povo pagão e historicamente inimigo de Israel. Decerto, não havia um clima de beligerância entre os povos naquele período específico; tanto é verdade que os belemitas encontraram franco acesso a Moabe, e famílias de efrateus e moabitas entrelaçaram-se por meio de vínculos conjugais. De qualquer sorte, o ato revela a gravidade da crise em solo israelita, decorrente da apostasia de Israel. Quanto a Elimeleque, não há como deixar de considerar que lhe faltou fé perseverante para permanecer em Belém, a despeito da crise que vivenciava. Para os que cogitam ter como certa a atitude de Elimeleque por ele estar buscando garantir a sobrevivência da sua família, é preciso considerar que justificar nossas decisões vacilantes pelas circunstâncias adversas que enfrentamos é uma flagrante negação do valor da confiança em Deus e na sua providência. A verdadeira fé é fortalecida e provada nos momentos mais críticos da vida (1 Pe 1.7).
I. A PROPOSTA DE NOEMI
1. Uma crise em família - Não sabemos quanto tempo Elimeleque viveu em Moabe. A narrativa bíblica indica que a família permaneceu junta por algum período (Rt 1.2). Algum tempo depois, morreu Elimeleque, deixando a sua esposa, Noemi, com os seus dois filhos, Malom e Quiliom, que, à época, já tinham idade para casarem-se. Apesar de não haver idade mínima para o casamento no mundo antigo (Yamauchi, 2023, p. 397), os homens, pelo menos, não se casavam muito cedo. Isaque, por exemplo, casou-se aos 40 anos (Gn 25.20). Malom, o filho mais velho, casou-se com Rute. Quiliom casou-se com Orfa. O texto sagrado informa que a família belemita ficou em Moabe “quase dez anos” (1.4), o que corresponde, provavelmente, a todo o tempo de permanência desde a chegada àquelas terras. Ao fim desse período, morreram Malom e Quiliom. Estudiosos do Antigo Testamento consideram que a morte prematura dos filhos de Noemi deveu-se às condições de saúde de ambos, que não seria boa desde a infância. Conforme Leon Morris, (1986, p. 233), “Malom possivelmente é derivado da raiz hlh ‘estar fraco’ ou ‘doente’”, assim, “neste caso, teria sido uma criança doentia”, completa Morris. O mesmo autor afirma que “Quiliom também é nome que tem conotações desagradáveis, visto que significa algo como ‘definhando’, ‘falhando’ ou mesmo ‘destruição’”.
2. Tirando força da fraqueza - Nenhuma família está livre de viver tragédias, nem mesmo as mais piedosas. O que dizer da família de Jó, que tinha como sacerdote um homem “sincero, reto e temente a Deus; e [que] desviava-se do mal” (Jó 1.1)? A família, como diz Every Claiton (2020, p. 13), é a célula em que age o Deus da história. Noemi não tinha consciência disso enquanto enfrentava o furacão de problemas que lhe roubou a alegria, assim como cada um de nós não consegue, em tempos de crise, compreender claramente o que o Senhor está querendo de nós por meio dos processos nos quais faz passar. Como observa Cabral (2023, p. 86), Noemi não podia imaginar o plano presciente do Senhor em todas aquelas circunstâncias. A questão, contudo, não é tentar explicar as tragédias, como se tivéssemos domínio racional sobre elas, mas comportar-nos de um modo responsável, perseverando no cumprimento de nossos deveres, mesmo que não vejamos luz alguma no fim do túnel. Acima de tudo, precisamos continuar confiando em Deus. Mesmo que seja difícil, se tivermos desenvolvido um relacionamento com o Todo-Poderoso, conheceremos o seu caráter santo, justo e bom e confiaremos que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto” (Rm 8.28).
Noemi estava desolada, mas não ficou prostrada. Não podemos deixar de agir e cumprir nossas obrigações diárias quando as tristezas querem nos consumir.
Já na NAA, aparece o adjetivo “fraco” nesse mesmo versículo: “Se você se mostra fraco no dia da angústia, é porque a sua força é pequena”. Trata-se de “raphah”, no hebraico, com o sentido de “afundar”, “relaxar”, “deixar cair”; ou seja, tem a ver com a atitude pessoal tomada durante a crise, e não com o estado interior. No aspecto subjetivo, angústia; mas, na prática, ações concretas, iniciativas. Quando soube que o Senhor havia abençoado o seu povo, “se levantou ela”, ou seja, Noemi, com as suas noras para voltar a Belém (Rt 1.6,7). A atitude de Noemi é própria de quem tem espírito de liderança.
As desistências fazem-nos perder bênçãos extraordinárias. Confiar em Deus e seguir em frente é sempre o caminho certo. Nas atitudes práticas, de nossa responsabilidade, está a parte da terapia que pode ajudar-nos a superar os dramas da vida. Desistir de objetivos comuns da vida tem sido altamente prejudicial para a saúde emocional e espiritual de muitas pessoas. Noemi levantou-se e voltou para Belém.
3. Sem manipulação emocional - Outra extraordinária lição que nos transmite Noemi é a importância de não usar nossos quadros tristes da vida para manipular e explorar as pessoas que nos cercam. Além de conservar-se ativa, Noemi soube equilibrar as suas emoções com a assunção das suas responsabilidades, não se vitimizando diante das suas noras, tentando constrangê-las a permanecer junto dela. É razoável entender que uma mulher idosa precisa mesmo de alguém para fazer-lhe companhia e oferecer cuidados — como fez Rute a Noemi —, só que esse tipo de relacionamento não pode ser construído com base em manipulações.
Ter dependência patológica de outra pessoa é sintoma de profunda carência afetiva. Embora dependamos uns dos outros, não é possível sustentar uma boa convivência se não houver interdependência, manifestada em reciprocidade, mutualidade, compartilhamento, cooperação, equilíbrio e confiança. Pessoas que sofrem de carência afetiva terminam tornando-se um grande peso em qualquer relacionamento. Quando isso se agrava, costuma atingir níveis perigosos, que se exteriorizam das formas mais diversas. O ciúme desmedido é um desses terríveis quadros produtores de tragédias. O excessivamente carente usa a sua doentia condição para manipular os outros. Não raras vezes, esses quadros são sustentados por problemas espirituais não resolvidos (ou mal resolvidos); falta de maturidade espiritual; ausência de uma vida cristã autêntica, na correta compreensão do que é ser discípulo de Cristo (Lc 9.23).
Desse tipo de criação, vêm adultos emocionalmente débeis, com baixo nível de maturidade e independência emocional — e isso também se reflete no aspecto espiritual. Pessoas emocional e espiritualmente sadias não são manipuladoras; buscam — o quanto podem — resolver os seus próprios problemas, entendendo os limites de uma dependência mútua saudável, numa vida de cooperação e reciprocidade.
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II. A CONVICÇÃO AMOROSA DE RUTE
1. Uma amizade provada e aprovada - Por que Rute persiste e Orfa desiste? O sentimento e a força moral de Orfa não eram tão intensos quanto os de Rute. Isso ficou demonstrado na sua decisão após a insistência de Noemi para que ficassem em Moabe. As palavras de Noemi certamente levaram Orfa a refletir um pouco mais. Embora fosse apegada à sogra, realmente não havia indicação alguma de que pudesse ter um futuro melhor ao lado de uma idosa pobre e sem filhos. Isso deve ter pesado na decisão de Orfa, além do fato de não haver no seu coração uma convicção profunda de que devesse escolher o caminho da dificuldade, rejeitando o estilo de vida dos moabitas, com as suas licenciosidades e idolatrias.
A fé de Orfa era emotiva, porém fraca. Infelizmente, muito se vê disso no cristianismo evangélico atual. Pessoas que se emocionam e choram, mas que são desprovidas de convicção na hora de tomar atitudes ao lado da verdade do evangelho. Como diz Matthew Henry: “Fortes sentimentos, sem uma opinião bem definida, normalmente produzem decisões fracas” (2022, p. 196). O mesmo autor observa: “Aqueles que assumem uma profissão de fé somente por complacência dos parentes, ou para agradar seus amigos, ou por causa da companhia, serão convertidos por pouco tempo” (ibid., p. 197).
Abraão, que recebeu o título de amigo de Deus (Tg 2.23), teve o seu amor ao Senhor provado de forma absolutamente intensa, com o pedido de entrega do próprio filho. Deus estava extraindo de Abraão algo mais intenso e puro, demonstrado através da extraordinária oferta de Isaque. É isso que podemos entender da expressão do Anjo do Senhor: “[…] agora sei que temes a Deus e não me negaste o teu filho, o teu único” (Gn 22.12). Assim como Noemi, Deus quer que tenhamos um relacionamento sincero e profundo com Ele, pautados numa entrega total. As provas servem para Ele extrair o que realmente há em nosso coração. Se respondemos afirmativamente, com obediência e fé, o Senhor agracia-nos com a sua terna, profunda e providencial amizade: “Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15.14). Isso resulta em muitas bênçãos. Dentre elas, um conhecimento maior de seus mistérios (“[…] tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai nos tenho feito conhecer”) e acesso para recebermos o que lhe pedimos (“[…] a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vos conceda”) (Jo 15.15,16).
2. Amizade na adversidade - As verdadeiras amizades não cedem às conveniências ou pressões do momento. Amigo que muda de lado facilmente ao sabor dos seus interesses não é amigo verdadeiro. Salomão escreveu: “O amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade” (Pv 17.17 – NVI). No período da monarquia judaica, temos o belo exemplo da amizade entre Davi e Jônatas (1 Sm 18.1) a despeito da fúria do rei Saul. A disposição de Jônatas em ser amigo de Davi mostrou-se mais forte que as injustas investidas do seu pai (1 Sm 20.1-4).
O sociólogo e filósofo polonês Zigmunt Bauman (1925–2017), que muito escreveu sobre modernidade líquida, costumava apontar para as fragilidades das amizades atuais, que são tão múltiplas e mostram-se tão “quentes” no ambiente virtual, mas que são tão poucas e incrivelmente frias na vida real. O tipo de companheirismo e comprometimento de Rute às vezes não se é visto nem mesmo no ministério da igreja. O cristão tem o imperativo de amar uns aos outros (Jo 13.34), combustível indispensável para amizades verdadeiras e duradouras.
3. Um amor prático - O amor de Rute não era apenas verbal ou sentimental; era prático. Chegando a Belém, Rute não ficou parada, envolta em expectativas fantasiosas. Ela dedicou-se ao trabalho diário nos campos de Belém (Rt 2.2).
Está crescendo em nossos dias a chamada Teologia do Coaching, que, embora reúna conselhos práticos — muitos deles extraídos das Escrituras Sagradas —, tem sido crida por muitos como um meio fácil de alcançar sucesso na vida. Isso produz uma espiritualidade superficial, que desconsidera a necessidade de percorrer caminhos difíceis, porém reais, e a prática fiel e perseverante dos princípios da Palavra de Deus sem elevadas pretensões, como fez Rute na sua dura vida em Belém. A justiça de Deus não combina com uma espiritualidade que imagina a possibilidade de cortar caminhos, valendo-se de uma espécie de “poções mágicas”. Conquanto não devamos ser radicais, também não devemos ser ingênuos, como meninos na fé (cf. Ef 4.14).
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III. A CONVICÇÃO DA MULHER: "O TEU DEUS É O MEU DEUS"
1. Uma fé fervorosa - O que é ser fervoroso na Bíblia?
Os ensinamentos do apóstolo Tiago em sua carta complementam perfeitamente a vida de Rute. Em Tiago 2:14-18, ele afirma: “De que adianta, meus irmãos, alguém dizer que tem fé, se não tem obras? Acaso a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou irmã estiver necessitando de roupas e do alimento de cada dia e um de vocês lhe disser: ‘Vá em paz, aqueça-se e alimente-se até satisfazer-se’, sem, porém, lhes dar nada, de que adianta isso? Assim também a fé, por si só, se não for acompanhada de obras, está morta. Mas alguém dirá: ‘Você tem fé; eu tenho obras’. Mostre-me a sua fé sem obras, e eu lhe mostrarei a minha fé pelas obras.”
Rute personifica esses ensinamentos de Tiago. Sua fé não era meramente teórica ou verbal; ela se manifestava em ações concretas. Cada espiga que Rute recolhia no campo representava não apenas seu trabalho árduo, mas também sua fé viva e ativa. Ao cuidar de Noemi, Rute demonstrou que sua fé estava acompanhada de obras, uma fé que se mostrava em seus atos de amor, dedicação e sacrifício.
Tiago nos ensina que a fé sem obras é morta, e Rute exemplifica essa verdade de maneira clara .
2. Uma fé que inspira - 0 verbo “inspirar” provém do termo latino inspirare, “soprar”. As Escrituras são o resultado do sopro divino. Foi através do sopro divino que Adão veio à existência (Gênesis 2:7) e o Universo foi criado (Salmo 33:6).
Noemi, como uma figura mais velha e experiente, desempenhou um papel importante na orientação e no exemplo de Rute. Sua vida refletia os princípios de Tito 2:3-5, onde as mulheres mais velhas são chamadas a serem sérias no viver, santas, não caluniadoras, e mestras no bem. Este ensinamento destaca a importância de transmitir sabedoria e virtude às gerações mais jovens na fé.
A história de Noemi e Rute ilustra como o exemplo e a orientação de uma mulher mais velha podem moldar profundamente a fé e o caráter de uma jovem.
Noemi não apenas falava sobre fé e virtude; ela vivia esses princípios diariamente, sendo um modelo de conduta cristã. Sua decisão de retornar a Belém após a morte de seu marido e filhos não foi apenas um ato de coragem pessoal, mas um testemunho vivo de sua confiança em Deus.
3. Sensibilidade sob liderança - Não há dúvida de que as mulheres também são dotadas de talentos e dons (naturais e espirituais), que podem ser (e são) muito úteis no Reino de Deus. Contudo, é inafastável que também se reconheça que Deus deu ao homem a missão de liderar, o que começa no seio da família, em decorrência do sistema patriarcal estabelecido pelo Criador. Como escreve o pastor Elienai Cabral (2023, p. 94, 96): Antes de tudo, o sistema patriarcal foi criado por Deus […]. O líder da família é sempre o pai, não a mãe. A mãe corrobora com o pai para que a disciplina tenha sempre um caráter de responsabilidade mútua da parte do casal. Os pais devem ensinar os seus filhos quanto à bondade, à gentileza, às prioridades de suas vidas, o falar correto e o controle das emoções. Tudo isso é primordialmente trabalho do chefe da família, o pai.
O mais sábio, portanto, é que as mulheres cristãs não percam o foco, entregando-se a discussões e disputas carnais, que não produzem edificação, mas concentrem a sua fé e devoção em servir a Deus no glorioso serviço cristão, como valorosas cooperadoras.
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AUTOR: PB. José Egberto S. Junio, formato em teologia pelo IBAD, Profº da EBD. Casado com a Mª Lauriane, onde temos um casal de filhos (Wesley e Rafaella). Membro da igreja Ass. De Deus, Min. Belém setor 13, congregação do Boa Vista 2.
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BIBLIOGRAFIA
Bíblia Almeida Século 21
Bíblia de estudo das Profecias
Livro de Apoio, O Deus que governa o mundo e cuida da família - Pr. Silas Queiroz, Editora CPAD.
https://conhecerapalavra.com.br/rute-e-noemi-entrelacadas-pelo-amor/
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