Pb. Junio - Congregação Boa Vista II |
TEXTO ÁUREO
"E sucedeu que, nos dias em que os Juízes julgavam, houve uma fome na terra; pelo que um homem de Belém de Judá saiu a peregrinar nos campos de Moabe, ele, e sua mulher, e seus dois filhos." (Rt 1.1)
VERDADE PRÁTICA
Servir a Deus nos isenta de crises. Em qualquer circunstância, o segredo é permanecer fiel, confiando na providência divina.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE: RUTE 1. 1-5
INTRODUÇÃO
O livro de Rute está entre Juízes e 1 Samuel. Levando em consideração que o crítico quadro espiritual de Israel retratado em Juízes prolonga-se até os primeiros capítulos de 1 Samuel, o livro pode ser considerado um verdadeiro lírio no meio do deserto, ou, “semelhante a uma linda flor num jardim abandonado, ou a uma luz clara que aparece na escuridão da noite”, como diz S. E. MacNair (1983, 95). Não há dúvida de que o agir providencial de Deus é o que mais marca a narrativa belemita. A providência divina é percebida ao longo de todo o livro. O Jeová Jireh, proclamado por Abraão em Gênesis 22.14, é o Deus que tudo provê para Noemi e Rute, inclusive um remidor, Boaz, e um herdeiro, Obede, prolongador da semente de Elimeleque, da linhagem de Davi (Rt 4.13-22). O livro faz parte da chamada “trilogia de Belém”, as três narrativas cujo cenário descreve o período dos juízes em relação à cidade que também é conhecida como Efrata (Merril, 2001, p. 184). São elas: Mica e o levita (Jz 17–18), o levita e a concubina (Jz 19–21) e, por fim, a história de Rute, num corpus literário distinto e específico.
I. A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO
1. Na Bíblia Hebraica - Ao longo dos tempos, houve muita variação na composição e ordem dos livros do Antigo Testamento até chegar à organização que temos hoje, com Rute sendo um livro distinto, vindo imediatamente após Juízes.
Conforme explica Norman Geisler e Willian Nix (2006, p. 75): Os livros das Escrituras judaicas foram reagrupados várias vezes desde quando foram redigidos. Alguns deles, de modo especial os que fazem parte dos escritos, foram redigidos e aceitos pela comunidade judaica séculos antes das datas que os teóricos da crítica lhes atribuem.
Acerca dessa variação de posição, R. Clyde Ridall (2020, p. 160) sintetiza: Na Bíblia hebraica moderna este livro está colocado no Megilloth e é lido publicamente na Festa das Semanas (no tempo da colheita). Contudo, até por volta do ano 450 de nossa era, o livro de Rute era considerado uma continuação de Juízes. Em sua lista de livros inspirados, Josefo aparentemente considera Juízes e Rute como um único livro. Ao que tudo indica, Jerônimo deixa implícito que os dois estavam juntos no cânon hebraico. Rute aparece na LXX e na Vulgata logo depois de Juízes (como em nossas versões atuais). Não se sabe por que nem como o livro saiu de sua posição original junto aos “Profetas Anteriores” e foi parar no Hagiógrafo (ou Escritos), a terceira divisão do cânon hebraico.
3. Autoria e data - Além disso, as características gerais da obra indicam uma atmosfera própria do início do período da monarquia de Israel, reforçando ainda mais a autoria do profeta, sacerdote e último juiz de Israel. Um dos principais argumentos para essa conclusão, como destaca Leon Morris (1986, p. 219, 220), diz respeito ao estilo e à linguagem presentes na obra, pertencentes ao hebraico clássico, o que indica uma época primitiva, ou seja, dos dias de Samuel, logo após os fatos narrados no livro, bem distante do estilo visto em livros escritos no período pós-exílico (segunda metade do século V a.C.), como os livros das Crônicas dos reis de Israel, escritos provavelmente por Esdras. De fato, verifica-se que a narrativa de Rute encerra-se com a referência a Davi (“e Obede gerou a Jessé, e Jessé gerou a Davi” – Rt 4.22). Seria de todo improvável que um livro escrito após a monarquia (e no período pós-exílico!) não citasse qualquer outro rei de Israel, principalmente Salomão.
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II. O CONTEXTO HISTÓRICO
1. No tempo dos juízes - Os dias dos juízes foram marcados por uma grande anarquia e uma profunda apostasia e infidelidade do povo hebreu (Jz 1.7- 19). A Nova Tradução da Linguagem de Hoje traduz como: “cada um fazia o que bem queria”. Isso demonstra o quadro anárquico que estava em Israel, bem diferente do propósito e da ordem de Deus estabelecida por intermédio de Moisés, que previa uma unidade nacional sob a obediência da Lei (Dt 31.12,13). A sensação de estabilidade pela conquista da terra e o seu estabelecimento nas cidades (Js 2.6), somado à convivência com os povos cananeus que não foram desalojados, produziram uma drástica mudança no coração da nação israelita ao longo das gerações. Josué advertira ao povo que não se misturasse às nações que haviam ficado na terra e que sequer fizessem menção aos nomes dos seus deuses (Js 23.7). O povo deveria manter um extremo zelo de Deus e da sua Palavra, obedecendo a Ele em tudo e buscando viver isento de todos os costumes dos cananeus que permaneceram na terra, mas Israel fez o contrário de tudo isso.
2. Secularismo, hedonismo e Idolatria - A nação de Israel tornou-se secularista, hedonista e idólatra, entregando-se aos prazeres carnais e aos ídolos dos cananeus, como analisa Matthew Henry (2022, p. 97, 98):
Toda essa geração em alguns anos se esfriou, suas boas instruções e exemplos morreram e foram enterrados com eles e surgiu outra geração de israelitas que tinha tão pouca compreensão da religião e se preocupava tão pouco com ela que, apesar de todos os benefícios da sua educação, podemos verdadeiramente dizer que não conheciam o Senhor da forma correta, ou seja, não o conheciam como havia se revelado; completamente devotados ao mundo ou tão indulgentes com a carne no que se referia ao ócio e a luxúria, que não davam a mínima importância para o verdadeiro Deus e à sua santa religião. Dessa forma, foram facilmente atraídos aos falsos deuses e às suas superstições abomináveis.
[…]
Quando abandonaram o único e verdadeiro Deus não se tornaram ateístas, nem eram tão insensatos a ponto de dizer: Não há Deus. Mas eles seguiram outros deuses. Retinham tanto da natureza pura a ponto de dizerem que existia Deus, mas também permanecia tanto da natureza corrupta que multiplicavam os deuses. Eles estavam dispostos a aceitar qualquer deus, e seguir a moda, não a regra, na adoração religiosa.
Lições para todos os Tempos Algumas lições espirituais fundamentais podem ser extraídas do trágico exemplo de Israel no período pós-conquista. A primeira é sobre o quanto é importante uma liderança madura, experiente e temente a Deus, que tenha força moral e espiritual para ser exemplo com a própria casa e conduzir o povo em serviço, obediência e adoração. Josué foi esse tipo de líder. Quando o povo fica sem condutores idôneos, os prejuízos são incalculáveis em toda e qualquer época. A segunda é sobre como é imprescindível o ensino das Escrituras como base norteadora de todas as nossas condutas individuais e coletivas. Como Moisés havia ordenado, o povo deveria ser reunido — homens, mulheres, meninos e os estrangeiros — para ouvir, aprender e temer a Deus, guardando todas as suas palavras. A terceira lição que podemos extrair do infeliz exemplo de Israel nos anos posteriores aos dias de Josué é o cuidado de que precisamos ter para não sermos seduzidos pelo estilo de vida mundano da sociedade que nos cerca. É fato que o modo de vida fácil e os costumes aparentemente agradáveis dos grupos sociais com os quais convivemos têm um forte poder atrativo; afinal de contas, fazer a vontade de Deus com o zelo que nos recomendam as Escrituras pode ser visto como um fardo muito pesado, principalmente quando se refere a aspectos culturais não recomendados pelas igrejas conservadoras. O fato é que não é possível flertar com o mundo e os seus prazeres e, ainda assim, conservar o coração ardente pela presença de Deus. Os entretenimentos mundanos não são neutros como se imagina.
3. Opressão, clamor e livramento - O Deus de Israel cumpriu integralmente a sua Palavra enquanto a nação foi fiel a Ele. Como escreveu Josué: “Palavra alguma falhou de todas as boas palavras que o SENHOR falara à casa de Israel; tudo se cumpriu” (Js 21.45). Isso mostra o inestimável valor da confiança em Deus, a despeito de qualquer circunstância. Enquanto permaneceu fiel a Deus, o povo de Israel desfrutou de proteção sobrenatural: “[…] nenhum de todos os seus inimigos ficou em pé diante deles; todos os seus inimigos o SENHOR deu na sua mão” (Js 21.44). Tudo mudou quando o povo pecou.
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III. PROPÓSITO E MENSAGEM
1. O cetro de Judá - Não há dúvida de que a realeza do Antigo Testamento atingiu seu clímax com a ascensão da monarquia davídica. O que fica claro também é que a promessa de realeza não começou com Davi; isso remonta a Abraão. Lembre-se de que o Senhor prometeu a Abraão que “reis procederão de ti” (Gn 17.6), uma promessa que foi reiterada com Jacó (35.11). Essa promessa de realeza assume uma forma proeminente nas palavras finais de Jacó a seus filhos em Gênesis 49, quando pronuncia a bênção do domínio sobre Judá. Vamos analisar essa bênção de Jacó e como ela antecipou a ascensão da realeza para o povo de Deus.
No versículo 8, Judá se torna objeto de louvor e é munido de domínio mundial. O versículo 9 continua com o retrato do governo de Judá, retratando-o vividamente como um leão jovem e que está crescendo. Ele persegue sua presa, volta para sua toca com a mesma e repousa poderosamente, onde ninguém ousa desafiá-lo.
Isso nos leva às imagens intrigantes do versículo 10. Jacó associa dois símbolos de realeza a Judá: um “cetro” (Nm 24.17; Is 11.4; Sl 45.6; Zc 10.11) e um “bastão” (Nm 21.18; Sl 60.7). A frase “entre seus pés” é um eufemismo para o órgão reprodutor masculino (Jz 3.24; 1Sm 24.3; Is 7.20) e, portanto, representa a descendência de Judá. Em outras palavras, um judeu sempre será o comandante nacional do povo de Deus. Isso permanecerá verdadeiro “até que venha Siló” (Gn 49.10).
2. Amor e redenção - Rute é uma peça indispensável na metanarrativa bíblica que revela o amor divino pela humanidade, manifestado através do plano de redenção, que culminou com o envio do Filho de Deus ao mundo para, uma vez encarnado, oferecesse a si mesmo como sacrifício perfeito no lugar de toda a humanidade (Jo 1.1-14; 3.16; Gl 4.4,5). Esta é a mensagem principal do livro: o amor de Deus e o seu plano de redenção da humanidade sem acepção de pessoas (At 10.34-44).
3. Fidelidade e altruísmo - Uma jovem moabita deixa a terra dos pais para acompanhar a sua sogra, já idosa, que não tinha nenhuma perspectiva material ou humana de trazer-lhe um futuro promissor (Rt 1.16,17). Pobre e sem filhos, Noemi não tinha realmente o que oferecer a Rute. Já em Belém, o comportamento de Rute foi voltado integralmente para a proteção e o cuidado da sogra — e de forma voluntária (Rt 2.2,17,18). Rute não esboçou uma atitude sequer que lhe pudesse favorecer em primeiro lugar, como a busca de um casamento com qualquer homem belemita (Rt 3.10). Na verdade, o interesse por casar-se não surgiu da decisão dela, mas da específica orientação da sogra (Rt 3.1-6). Esse comportamento de Noemi e Rute dá uma eloquente mensagem: o valor do altruísmo num mundo dominado pelo egoísmo. Enquanto nos dias dos juízes todos viviam segundo os seus próprios padrões e interesses (Jz 21.25), Noemi e Rute exalam abnegação, destoando dessa máxima individualista. Sogra e nora não pensavam em si mesmas. Elas praticaram o amor que não busca os seus próprios interesses (1 Co 13.5).
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AUTOR: PB. José Egberto S. Junio, formato em teologia pelo IBAD, Profº da EBD. Casado com a Mª Lauriane, onde temos um casal de filhos (Wesley e Rafaella). Membro da igreja Ass. De Deus, Min. Belém setor 13, congregação do Boa Vista 2.
Endereço da igreja Rua Formosa, 534 – Boa Vista - Suzano SP.
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BIBLIOGRAFIA
Bíblia Almeida Século 21
Bíblia de estudo das Profecias
Livro de Apoio, O Deus que governa o mundo e cuida da família - Pr. Silas Queiroz, Editora CPAD.
https://jesuseabiblia.com/biblia-de-estudo-online/rute-estudo/
https://cucadecrente.com.br/estudo-livro-de-rute/
https://voltemosaoevangelho.com/blog/2021/09/o-cetro-de-juda/
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